2003/09/20

Helena Matos 

Cada vez melhor, a minha cronista portuguesa preferida. Desta vez, descreve as "Saudades da esquerda".

Por falar em proteccionismo... 

Interessante o diálogo sobre a imigração entre o CN, da Causa liberal e o De Direita. Mas a ideia descentralizadora do CN, embora boa nos seus pressupostos, parece-me poder correr o perigo de redundar em resultados muito mais proteccionistas do que os estabelecidos por qualquer Estado socialista ou socializante.

Italianos contra o proteccionismo (via Intermitente) 

Organizações italianas - Instituto Bruno Leoni, Centre for the New Europe, Globalia - iniciaram uma recolha de assinaturas aqui para lutarem contra as medidas proteccionistas. Não sou italiano mas apoio.

No papel de frei Tomás 

Face a uma certa polémica que hoje se precipitou, o Mata-Mouros, particularmente o signatário, vem declarar sob palavra de honra que quando, no passado dia 16, escreveu a posta "Olha para os que eles dizem, não para o que fazem!" ainda não tinha conhecimento do conteúdo do artigo de Fernando Madrinha, no Expresso (sem link directo), cujo título, por sua vez, intitula a presente.
Por ser verdade e corresponder à sua vontade, esta declaração é por si assinada tendo como testemunha indeclinável a sua consciência.
CAA

Titulação Moderna 

Diz o Expresso que há uma "guerra entre Powell e Rumsfeld.
Diz ainda o Expresso que foi essa "guerra", "somada a um perfil considerado «demasiado europeísta», liquidaram a candidatura de António Vitorino a secretário-geral da NATO."

A homossexualidade e os políticos (V) 

Se os políticos optassem por desfazer as dúvidas e os múltiplos equívocos quanto ao que escondem na sua vida privada esvaziariam críticas sinuosas que tanto os fragilizam, todo o tipo de comentários acintosos e a sensação irreparável de que não estão a dizer a verdade - nem quanto a isso, nem em relação a muitas outras coisas.
Evitariam, por exemplo, situações como esta sucedida na entrevista ao Público de sexta-feira, do Secretário de Estado Adjunto do Ministro da Presidência, Feliciano Barreiras Duarte:
(...) P. - A orientação do dr. Paulo Portas não lhe interessa, portanto?
R. - Como deve imaginar, a interpretação que eu posso dar à sua pergunta... permita-me que diga, eu sou ingénuo... mas eu não vou entrar nesse tipo de situações.
(...)

A homossexualidade e os políticos (IV) 

Será justo considerar que os políticos não têm direito à privacidade na sua escolha de orientação sexual se esta é reconhecida a todos os cidadãos?
A questão é melindrosa e a resposta terá sempre uma faceta inexorável de uma certa ambiguidade. Mas, apesar de tudo, entendo que quem desempenha cargos políticos de responsabilidade não tem esse direito. Os políticos em democracia têm responsabilidades acrescidas, não apenas em relação aos seus projectos, às figurações que fazem do bem comum, mas também no que tange às suas próprias pessoas, i. é àquilo que são. Quando analisamos um político não nos importa apenas a sua competência, a sua inteligência e as suas ideias; os aspectos pessoais são fundamentais, também.
Isto não significa existir alguma espécie de incompatibilidade entre a opção homossexual e a possibilidade de se ser um bom político – nada disso. Mas sou forçado a concluir que a perversidade inerente à mentira acerca dessa mesma opção torna um político desqualificado para o desempenho de funções relevantes na decisão pública. Alguém que mente permanentemente acerca daquilo que é, que esconde uma parte significativa da sua vida e de si mesmo, que tenta demonstrar comportamentos que não correspondem à verdade de si, não tem condições para merecer a confiança das pessoas e não preenche os mínimos de carácter exigíveis para o desempenho de cargos políticos de nomeada. Transformou-se a si mesmo num embuste ao fazer da sua vida uma impostura. As características da sociedade contemporânea, ao contrário da opinião mais popularizada, vão no sentido do realce da transparência dos comportamentos e da partilha natural de informações acerca daqueles que escolheram exercer profissões de grande atenção pública e mediatizada, como é o caso dos políticos.
Já este raciocínio não terá qualquer hipótese de aplicação no caso das pessoas cujas vidas pessoais ou profissionais não têm qualquer factor de mediatização obrigatória ou natural. A privacidade da vida de um cidadão comum deverá ser protegida intensamente. Em relação a todas as suas opções de vida, inclusivamente a sua orientação sexual ou a possibilidade de a camuflar de alguma forma – atitude que só respeitará a si e aos que lhe são próximos
Mas um político profissional não é um cidadão comum. Dir-se-á, então, que um político não tem os mesmos direitos - no plano social e até jurídico – que um cidadão comum no que toca à sua vida privada. Por muito que isso possa parecer aberrante a resposta tem de ser não – um político profissional, bem como tantas outras figuras públicas, está de algum modo sujeito a uma capitius diminutio quanto a alguns dos seus direitos. Por exemplo, o de mentir aos eleitores quanto à sua orientação sexual. Mas, não nos esqueçamos, também a opção primeira em ser político é livre e exclusiva do interessado.

A homossexualidade e os políticos (III) 

Em grande medida, já não existe repressão contra os homossexuais. A incompreensão popular está a atenuar-se. Em Espanha, o futuro líder do PP, Mariano Rajoy, não parece ter ficado politicamente afectado por se ter revelado a sua condição homossexual – ao contrário do que aconteceu com o seu denunciante, Alfonso Guerra –, mas apenas por ter escondido o facto durante tantos anos. O que é condenável, suspeito e, até, ridículo, é alguém fazer-se passar por aquilo que não é e nunca assumir frontalmente o que pensa ser.
O actual “Maire” de Paris ganhou com o arrojo de se apresentar frontalmente como homossexual. Nas últimas eleições autárquicas, em artigos publicados na imprensa, exortei os políticos portugueses a imitarem-no se sentissem essa necessidade. Nenhum o fez. Hoje, o clima em Portugal é de enorme suspeição. Não me recordo de existirem tantos rumores sobre estes aspectos de governantes e políticos portugueses, em revistas da imprensa internacional, blogues e reportagens várias a propósito do processo Casa Pia, reflectindo-se na inquietação da opinião pública em geral. Teimosamente, denotando falta de coragem, penúria de carácter e pouca inteligência estratégica, a maioria dos visados continuam a esforçarem-se desesperadamente por simularem serem o que não são. Não tenho dúvidas que muitos ficarão a perder com isso.

2003/09/19

Mais um blogue feminino II 

"Mais um" que é um verdadeiro achado:
"...E se um dia entrasse num blog, e lhe oferecessem o seguinte post:

XIU! É extrictamente proibido sentir-se à vontade ou elevar a voz. A sua opinião ou gosto pessoal são irrelevantes e à partida ridículos. É um privilégio ler-me. Concorde! A sua sobrevivência depende da minha sobrevivência."


Vale a pena ler o resto...

Mais um blogue feminino 

Seja bem vindo à Lusosfera.

A França vista dos EUA 

Editorial de ontem no New York Times:

"It's time we Americans came to terms with something: France is not just our annoying ally. It is not just our jealous rival. France is becoming our enemy."
(...)
"France wants America to sink in a quagmire there in the crazy hope that a weakened U.S. will pave the way for France to assume its "rightful" place as America's equal, if not superior, in shaping world affairs."
(...)

Conclusão (com um interessante quanto inesperado fair play)

"But what's most sad is that France is right — America will not be as effective or legitimate in its efforts to rebuild Iraq without French help. Having France working with us in Iraq, rather than against us in the world, would be so beneficial for both nations and for the Arabs' future. Too bad this French government has other priorities."

Notas: post sugerido pelo merde in france
O acesso aos textos do NYT pressupõe um registo prévio mas gratuito.

A outra crise da Justiça 


A homossexualidade e os políticos (II) 

Não são os comportamentos folclóricos do movimento "gay" que me preocupam. Os meus receios dirigem-se aos que desempenham cargos públicos, nomeadamente de natureza política, e que longe de assumirem a sua opção homossexual tudo fazem para a esconder. O que justifica estas minhas apreensões? – perguntar-se-á. Essencialmente o acto de ocultar uma componente importante, mesmo determinante, do “eu” da pessoa em causa. Que sendo alguém que desempenha um cargo político, deverá ser conhecida do grande público. Na sociedade hiper-mediatizada em que vivemos estão à disposição das pessoas informações exaustivamente circunstanciadas da vida pessoal dos que se tornaram famosos. É possível sabermos como vivem, que automóvel têm, qual a sua gastronomia preferida, peculiaridades das suas parentelas e as vicissitudes das suas relações. Os políticos não escapam a esta lógica. Nem devem. A sua vida fiscal é pública, as suas contas bancárias são vigiadas, as pessoas querem saber pormenores da sua vida familiar, entrevistam-se os antigos colegas de liceu, esquadrinham-se os aspectos mais recônditos das suas biografias.
Nas democracias abertas do nosso tempo, as pessoas entendem ter o direito de saber o mais possível acerca de quem os governa ou que poderão vir a fazê-lo. Nestes termos, a opção sexual de um político deixa, inexoravelmente, de ser um assunto privado. Pelo contrário, se a quiser esconder, camuflar ou iludir, ensaiando atitudes que visem anunciar o inverso daquilo que ele é, então o problema passará a ser outro – esse político está a mentir! Ao pretender transmitir publicamente um elemento primordial da sua personalidade que é algo que não corresponde à verdade, transforma-se em alguém que não é digno de merecer a confiança das pessoas. O acto de encobrir aquilo que se é – isso sim! - está muito mais próximo da perversidade do que qualquer opção sexual que se possa livremente adoptar.

Não gosto do Muito Mentiroso 

Não gosto do Muito Mentiroso porque insinua e não tenta demonstrar. Não gosto do Muito Mentiroso porque levanta demasiado vento sem se preocupar com o sentido, a lógica e as consequências das coisas que afirma. Não gosto do Muito Mentiroso porque só parece querer lançar a confusão. Não gosto do Muito Mentiroso porque acusa e sentencia. Não gosto do Muito Mentiroso porque não dá a cara. Não gosto do Muito Mentiroso porque envolve impudicamente muita gente que não tem oportunidade de se defender. Não gosto do Muito Mentiroso porque se esconde covardemente no anonimato da blogosfera para atacar e difamar.

Mas também não quero que por causa deste ou de outros Mentirosos se arranje o pretexto para limitar a liberdade que os blogues proporcionam. Tenho muito mais medo disto do que de qualquer Mentiroso.

2003/09/18

Orçamentos 

Ao aproximar-se a discussão do Orçamento de Estado para 2004, o "ano da retoma", o dr. Jorge Sampaio, enquanto visita a República da Turquia, fez a seguinte afirmação:

"Temos que encontrar alguns consensos mínimos. A palavra está eventualmente gasta, mas não é possível ter políticas de Educação e de Saúde que se modifiquem de quatro em quatro anos.

Não é possível, sobretudo, ter uma política orçamental que se resuma ao curto prazo. É preciso uma consolidação orçamental que vá para além da legislatura.
".

"Pressão" ou "conselhos" ao Governo?

Já agora, sem tomar posição sobre o discurso, é impressão minha ou o dr. Jorge Sampaio fica mais crítico quando atravessa a fronteira?

A reforma da acção executiva 

Entrou na passada segunda feira em vigor a dita reforma, teoricamente para simplificar a cobrança de dívidas. É ainda cedo para analisar os resultados de uma reforma contestada por muitos "agentes da justiça" (advogados, por exemplo).
Em todo o caso, aqui fica a ilustrativa "imagem da reforma", apresentada pelo Minsitério da dr.a Celeste Cardona. Mais do que os forçados sorrisos, sente-se na imagem um certo ranger de dentes...


(Aqui, no tamanho original)

A homossexualidade e os políticos (I) 

Como liberal, entendo que as opções sexuais de cada um apenas ao próprio dizem respeito. Praticamente desde o final da minha adolescência que não partilho os argumentos pretensamente morais que estigmatizam os comportamentos homossexuais. Nomeadamente, não me impressionam as razões aduzidas por algumas Igrejas, entre as quais a Católica, de que a homossexualidade constituiria uma abominação, assim declarada por textos religiosos de vária índole. Desde que se tratem de escolhas conscientes e livremente determinadas por adultos, julgo que nem a Sociedade, nem muito menos o Estado, deverão interferir impondo limites ou restringindo por algum meio a liberdade de cada um.
Reservo para mim, também, a liberdade de não optar por esse tipo de atitudes nem admitir que as mesmas me sejam impostas de alguma forma. Mas considero que as tentativas de apoucar alguém apenas devido à sua opção sexual são desprovidas de qualquer sentido.
Não significa que não tenha algumas reservas em relação ao tipo de exteriorizações de conduta que grande parte dos homossexuais têm vindo a adoptar nas últimas décadas. Sob o pretexto de “saírem do armário”, de se assumirem como julgam que são, os homossexuais desenvolveram uma cultura “gay” em que o exibicionismo é o mote e o esforço reiterado em coagir os outros a aceitar tudo aquilo que por eles é entendido por correcto, constitui a intenção declarada. O movimento “gay” contemporâneo é um circo onde impera o mau gosto, a vaidade frívola, as farpelas multicolores e um equilíbrio impossível entre a vontade de atrair alguns para a comitiva e o desejo obsessivo de chocar o maior número possível de “bourgeois”.
Mas, ainda assim, julgo ser possível a qualquer um manter-se imune a essas, cada vez mais exuberantes, demonstrações e garantir o seu espaço relativamente livre de influências não pretendidas.

Não tem mesmo piada nenhuma 

Leiam este texto na Formiga e meditem seriamente se aquele sr. que tem um blogue a que toda a gente acha muita graça (eu não) merece alguma consideração. A fronteira da decência mental já foi ultrapassada há muito.

2003/09/17

Americanices III (correcção) 

Agradeço ao CL ter reposto a verdade legal acerca do princípio do livre interrogatório das testemunhas. De facto, na minha posta "Americanices" existe um lapso acerca do qual agora me penitencio: confundi a posição processual das testemunhas face ao interrogatório em audiência de julgamento com a dos arguidos. De acordo com o disposto no nº 2, do art. 345º, do CPP, quanto ao modo de proceder ao interrogatório dos arguidos por parte do MP, dos assistentes e dos defensores, i. é dos demais intervenientes no julgamento, estes só o podem fazer através do juí­z e não de forma directa. Tal significa que as partes pedem esclarecimentos ou formulam as questões ao juiz (se estivermos em Tribunal colectivo, ao seu Presidente) e este decide se essa pergunta deve ou não ser respondida ("Sr. arguido ouviu a questão do Sr.Dr ? Faça favor de responder!") ou reformula-a de acordo com os seus próprios critérios - muitas vezes, bastante diferentes daqueles que motivaram a pergunta. Cheguei a ver juí­zes reproduzirem, palavra por palavra, a pergunta que tinha acabado de ser feita por um advogado, com o arguido a olhar para um e outro, estupefacto, certamente a pensar que ambos teriam perdido a razão. Ao contrário, as testemunhas podem ser livremente interrogadas excepto em situações especialmente restringidas na lei (nomeadamente quando se trate de menores de 16 anos).

Boas vindas 

Sem qualquer espécie de reserva mental, o Mata-Mouros dá as boas vindas à blogosfera à Mouraria e recomenda uma visita.

Americanices II 

Algumas precisões à posta do CAA sobre as séries "B" americanas (ver abaixo).
O nosso sitema processual é, de facto, bastante diferente do americano. Sempre me espantou, nos filmes e séries sobre tribunais americanos (um sub-género literário, cinematrográfico e televisivo de grande importância nos Estados Unidos, ao contrário da Europa, onde são raríssimas as obras sobre o tema, vá-se lá saber porquê), ver os advogados a falar com as testemunhas antes do julgamento. Em Portugal, esse comportamento é proibido e punido, disciplinar e processualmente. Mas o que mais me espanta (por confronto com a realidade portuguesa) naqueles filmes e séries é o facto de as testemunhas muito raramente serem tentadas a mentir. Melhor, tentadas até são, mas levam o juramento de verdade que fazem em audiência muito mais a sério do que as testemunhas portuguesas.
Não sei se o facto de os advogados não poderem falar com as testemunhas antes do julgamento é causa ou consequência da pouca importância que as testemunhas dão ao seu juramento, muitas vezes levado pouco a sério pelos próprios juízes ("o sr. jura dizer a verdade, jura?" "Sim..." ou "sim, senhor juiz". Não há qualquer fórmula sacramental (não necessariamente sagrada), do tipo "juro por minha honra dizer apenas a verdade", que poderia acrescentar (pouco, é certo) à vontade de dizer a verdade ou, pelo menos, de não mentir.
Muitas vezes tenho encontrado pessoas que me dizem, "em tal dia, tenho de ir (ou fui) a tribunal, para ser testemunha de fulano ou de cicrano". Muito raramente ouço dizer "em tal dia, tenho de ir (ou fui) a tribunal, para ser testemunha da verdade, ou para contar o que sei ou que vi". Creio até que há uma noção generalizada entre os portugueses de que as testemunhas, mais do que "os olhos e os ouvidos do juiz", são "ajudantes das partes", com uma espécie de dever moral, como direi, não propriamente de "inventar", mas, pelo menos, de "apimentar" (para usar uma expressão da moda) ou "adocicar" os factos, consoante os interesses da parte que as indicou, frequentemente com consequências nefastas na credibilidade do depoimento, levando os juízes a não acreditar em nada do que a testemunha acaba por dizer. Este estranho fenómeno nunca aparece nos filmes americanos. Não sei como é a realidade...

Em todo o caso, ao contrário do que afirma o CAA, em Portugal, no julgamento (ao contrário do que acontece, por exemplo, no inquérito ou na instrução, nos casos em que as testemunhas são ouvidas pelo juiz), repito, no julgamento, os advogados podem interrogar directamente as testemunhas, salvo casos muito excepcionais (crianças, p. ex.).

Que cabala estará por detrás do desaparecimento de Gastão? 

Segundo esta notícia a figura representada na fotografia está "um tanto envergonhado por ter fugido"!!!
Mas isso não nos convence. Temos, neste momento, razões para acreditar numa intervenção das secretas, da Maçonaria e da Opus Dei, alguns jornalistas e várias colaborações dos negócios internacionais. Gastão, heroicamente, terá escapado às garras dos seus raptores e, por agora, preferiu remeter-se ao silêncio para não prejudicar o seu apoquentado dono. A direcção do PS vai reunir-se de urgência e o Governo planeia, também, um gabinete de crise. Jorge Sampaio, na Turquia, já está informado. Segundo fontes próximas, o PR afirmou conhecer Gastão e saber do seu contributo para a democracia, bem como do seu papel no restabelecimento da serenidade entre os portugueses. Acrescentou que irá envidar todos os seus esforços para o esclarecimento total da situação: "este caso não pode ficar envolto em dúvidas" - afirmou.
Entretanto, Arafat disse estar disposto a receber Gastão como "escudo canino" para fazer frente à agressão israelita, insinuando ainda um eventual envolvimento da Mossad em todo este mistério.

Afinal perdeu a piada 

Via Homem a Dias deixei-me intrigar por este aqui. Será que se tratava de um completo imbecil carregado de auto-confiança ou, pelo contrário, um digno competidor de alguns dos nossos blogues mais refinadamente irónicos?
Mas depois li com mais atenção este extracto: A questão do preto exige uma explicação. Eu não sou rascista. Mas existem pessoas para todo o tipo de trabalhos e a minha experiência já confirmou que informática simplesmente não é o forte dos pretos. Na empresa mãe da empresa onde trabalho, simplesmente não há pretos, o que prova que o Departamento de Recursos HUmanos com larga experiência na contratação de pessoal, segue os mesmos pensamentos. Lá, como na filial onde trabalho não existe a necessidade de fazer cimento nem acartar com baldes de tijolos, logo não há necessidade de contratar pretos.
Já não me interessa se é um imbecil ou um cómico sem graça. Alguém que escreve uma coisa destas, colocou-se a si mesmo fora do merecimento de qualquer classificação ou referência.

Americanices 


Acabei de ver na TVI um episódio de uma daquelas séries americanas sobre temas judiciais que os nossos juristas costumam, desdenhosamente, classificar como “tipo B”. Mas não é nada disso. Chama-se “The Practice” e é do melhor que tenho visto.
Claro que para quem tem alguma experiência com o nosso sistema judicial aquilo que essa série revela assemelha-se a ficção científica: os advogados de defesa e os procuradores (acusação pública) colocados no mesmo plano processual em igualdade efectiva, a possibilidade de todas as provas estarem à disposição de ambas as partes para análise e ponderação antecipada (em vez dos agentes do Estado as esconderem sistematicamente), o direito dos advogados ouvirem previamente as testemunhas e poderem interrogá-las livremente durante o julgamento (por cá, antes nem pensar; no julgamento, o interrogatório é feito através do juiz), os juízes como simples árbitros que apenas intervêm para certificarem o cumprimento das regras processuais (em vez de monopolizarem os interrogatórios e cercearem continuamente o direito dos defensores a perfazerem o seu trabalho), a faculdade de pôr em causa os resultados da investigação da polícia e não ter de aceitar as suas conclusões como se de um dogma se tratasse, os juízes e Procuradores da República separados funcional e processualmente e nunca se confundindo, etc., etc..
Enfim uma utopia irrealizável entre nós. Afinal temos uma longa tradição a defender. Um passado de que nos devemos orgulhar e que produziu este “sistema que vai funcionando” como foi dito, vaidosamente, anteontem por um dos seus principais responsáveis. Que, aliás, pecou pela excessiva modéstia. Pois, como ouvi em Maio passado de um distinto Procurador da República numa conferência especializada, “o nosso modelo de processo penal é dos melhores do mundo e reconhecido como tal”. Claro – advertem prudentemente os guardiães do templo -, que é preciso atendermos aos “timings próprios da Justiça” e ultrapassar o problema do “confronto entre a lógica da justiça e a lógica da informação”, pelos vistos o único que conseguem enxergar e que até leva os mais ingénuos e menos avisados a pensar que “a justiça é demasiado lenta” – pasme-se!
Portanto, nada temos a aprender com essas séries americanas “tipo B”. Podemos ter problemas de educação, alguns nos cuidados de saúde, um deficit de produtividade, as nossas finanças podiam estar melhor, ou seja Portugal pode não ser dos países que suporte comparações na maioria dos assuntos, mas quanto ao Direito e aos nossos Tribunais não há qualquer dúvida: somos os melhores do mundo! Mesmo que tudo isso só vá funcionando. O resto são americanices.

2003/09/16

Conselhos eleitorais 


Cortesia Washington Post

É por isto que a Blogosfera vale a pena! 

"Aliás, concordo plenamente com Pacheco Pereira quando afirma que a blogosfera é o último reduto onde ainda resta uma nítida distinção entre esquerda e direita. (...) Porém, fiquei estarrecido com a abundância de neoliberais que por cá pululam, todos crentes, sem qualquer reserva, que a felicidade dos povos depende da aplicação bruta, nas sociedades, da lei da oferta e da procura" in Satyricon.

Embasbacados, mas enlevados 

Um enorme OBRIGADO ao Pedro Mexia pela inclusão do Mata-Mouros na lista dos blogs que combatem a hegemonia cultural da esquerda.

Olha para o que eles dizem, não para o que fazem! 

Complementando aquilo que o Catalaxia afirmou acerca das recomendações da Conferência Episcopal Portuguesa:
- não há nada de menos exemplar do que aqueles que estão isentos do pagamento de impostos surgirem a verberar os que não estão ao abrigo dessa pia exclusão e não os querem ou não conseguem pagar. Quem não está adstrito a um dado dever não pode bramir com esta ligeireza contra os que lhe estão sujeitos a bem ou a mal. Se a CEP entende realmente que pagar impostos é uma obrigação moral e cristã, com eventuais raízes teologais, então a Igreja Católica que comece por dar esse Santo Exemplo a todos os portugueses: que peça para terminar o seu tratamento de privilégio fiscal e se apronte para prestar as suas contas nas respectivas Repartições de Finanças. Com certeza que a Ministra das Finanças agradecerá, embevecida. E, então sim, a CEP poderá falar com a imprescindível força ética para poder ser levada a sério!

O que é isto? 

Alguns dos nossos blogues "Infiéis" não cessam de me surpreender. Por exemplo, que significam estas fotos aqui? Quem é aquela gente? Um novo culto religioso, uma seita em gestação? Um centro de recuperação de ex-arrumadores de automóveis? Trata-se de uma "rave"?

Em busca dos neurónios perdidos 

JPP escreveu o que pensava sobre o discurso de Paulo Portas. Não é a primeira vez que o diz acerca desse ministro. Sempre com a preocupação de tentar justificar as suas afirmações. Pode-se concordar ou não. Mas o que não se deve fazer é responder a qualquer análise com o insulto. Ainda por cima, sem graça e completamente desajustado.
Hoje, no Telejornal da RTP1 (disponível em vídeo aqui), assisti a um tal Pires de Lima tentar defender o ministro da defesa descrevendo uma putativa "falta de funcionamento dos neurónios" de JPP. Não me parece ser a refutação mais feliz. Nem vale a pena realçar eventuais problemas de elegância, basta aferir a excessivamente notória improcedência do "argumento". Muito melhor andou o Católico e de Direita: não concordou e explicou porquê sucintamente, com lógica e mestria.
Meu caro Josephuscarolus: seja caridoso e envie as suas bençãos aos que delas mais necessitam, porque quando ouvimos os amigos do ministro só nos vêm à memória as conhecidas expressões do "Sermão da Montanha" para os pobres...

2003/09/15

Os vários PSD's que conheço (I) 

"O que os "convencionais" e Giscard insistem em não compreender é que estão a forçar a criação de um super-estado europeu face a povos e nações que não o desejam" JPP

No sábado passado participei num debate transmitido pela rádio Universidade.FM, de Vila Real. Num interessante programa cujo tema principal era o projecto de “constituição” expelida pela Convenção de M. Giscard D’Estaing. O meu oponente directo era o deputado do PSD, Professor António Nazaré Pereira, para além de um moderador externo à rádio e freneticamente “engagé”, o ex-deputado socialista António Martinho.
Sobre o debate em si e os inúmeros paradoxos que a posição do PSD sobre a Europa apresenta falarei mais tarde (embora tenha defendido, rigorosamente, a mesma ideia que JPP postou hoje e que acima reproduzo). Por agora, gostaria apenas de realçar um pequeno incidente assaz revelador.
Discutia-se a política externa europeia, afirmando o deputado social-democrata a necessidade da Europa falar a “uma só voz”. Eu ia tentando contrapor (por entre as constantes interrupções calculadas do inefável moderador) as virtudes da diversidade de opiniões, os benefícios de se respeitarem as diversas sensibilidades dos muitos Estados da UE, a ideia que esta era uma matéria onde a inter-governamentabilidade tipicamente se impunha. Nessa altura, o meu opositor e/ou o moderador (confesso que, a dado passo, já não os conseguia distinguir) avançou com um argumento que se pretendia demolidor (o sentido do discurso é este, embora a reprodução das palavras, sendo sensivelmente as que se seguem, poderão não corresponder na sua exactidão plena):
- Veja bem o caso do Médio Oriente! Enquanto que os EUA têm apoiado a política de Israel, a UE tem estado sempre ao lado dos palestinianos e do seu presidente, Arafat, contra as políticas do Governo israelita. Ora – concluiu, viçosamente o deputado do PSD – se a UE tivesse uma política externa comum a sua voz teria muito mais relevância para apoiar a causa palestiniana e fazer frente à hegemonia americana.
O “imparcial” moderador socialista assentia efusivamente com acenos de cabeça. Aproveitei para referir que era precisamente por recear esse tipo de razões, excessivamente perigosas, que discordava da bondade da proposta de criação de um Ministro Europeu de Política Externa. Que o futuro da Europa teria de ser construído ao lado dos EUA e nunca contra eles. Que, por mim, divergia do “tal” apoio a Arafat cujo envolvimento com a chantagem terrorista é patente.
A reacção que obtive foi de espanto, entremeado com algum humor (i. é, risos). Imagine-se alguém, supostamente no seu perfeito juízo, admitir que a política externa europeia deveria acompanhar a dos EUA. Que não se deveria dar apoio a Arafat. Que o mau da fita não é, invariavelmente, Israel. Vejam lá bem!

Quando discuto com alguém do PSD sei que estou defronte a um mistério, pelo menos inicial - tenho sempre um problema de localização político-ideológico. Para além da habitual concordância clubística com as posições estabelecidas pela hierarquia formal do partido, tudo o resto é um espaço em aberto. Posso ter pela frente um federalista convicto ou um eurocéptico dos quatro costados; um liberal (pelo menos nalguns pontos) ou um estatista militante; alguém que compreende a história e a lógica da nossa civilização ou um anti-americano sectário ainda com recordações lacrimosas das manifestações anti-Vietname dos princípios dos setentas; uma pessoa a quem não repudia assumir-se “de direita” ou um socialista mal encaminhado; até chego a encontrar PSD's praticamente comunistas em tudo, excepto na assunção do epíteto. Tudo é possível. O PSD – realmente, nos seus defeitos, o partido mais português de Portugal - é capaz de defender todos os valores e em quase todas as suas vertentes. Tal como prescindir deles com enorme à vontade.

Europa e referendos 

Ao contrário do que referiu o LR, não conheço qualquer referendo, plebiscito popular ou acto eleitoral democrático e universal, que tenha sido ganho ou perdido por “questões puramente monetárias”. Circunstancialmente, podem deter alguma importância mas nunca são decisivos. Para o bem e para o mal, as pessoas votam nas ideias, nos sonhos que acalentam ou que lhes são induzidos e naqueles que melhor conseguem protagonizar o que lhes vai na alma. Não votam ou deixam de votar – repito – por razões assentes em questões monetárias ou afins. Claro que em épocas de crises económicas gravíssimas e de enormes carências, esses aspectos são primordiais; mas não creio que tal se possa subsumir ao problema sueco.

O Janela Para o Rio, respondendo às inquietações que levantei ontem, adianta que o problemas dos países já inseridos na EU demonstrarem cada vez menos entusiasmo com a Europa comunitária, enquanto que os que vão ser integrados detêm ainda fortes doses de excitação a esse propósito, se deve essencialmente à atracção pelos fundos comunitários. Uma resposta terrível, se for verdadeira.
Os fundos comunitários são extremamente importantes, mas não julgo serem a única resposta possível. O que falta à UE é um ideal capaz de ser apreendido e interpretado pela generalidade dos europeus. Falta mística, alma, poesia, algo que consiga arrebatar as pessoas para uma utopia possível. Sobram tecnocratas a recitar relatórios que nem eles próprios entendem, convenções fechadas onde se engendram “consensos” estéreis que só servem para afastar os cidadãos. Para mim, foi sobretudo isso que aconteceu na Suécia. E que irá suceder em muitos mais lugares se o caminho seguido pelos eurocratas for o mesmo que até aqui.

O Euro e o referendo sueco 

Leio isto e pergunto: haverá alguma relação de causa/efeito entre o não sueco e esta notícia?

Referendos 

Tenho sérias dúvidas que o não ao Euro por parte dos Suecos tenha mais a ver com questões puramente monetárias (o BCE até não se tem portado mal na gestão da moeda), do que com egoísmos e receios muito nórdicos de perderem alguns dos direitos adquiridos para os “magrebinos” do sul que ainda não os têm...

Retrógrados 

Segundo uma notícia no Público de ontem (incompreensivelmente, este jornal quase nunca tem disponível em linha a secção “Local Porto”, o que inviabiliza a linkagem), a Associação dos Comerciantes do Porto rejeitou liminarmente em Assembleia Geral a instalação de uma loja do “El Corte Inglês” em qualquer localidade da Área Metropolitana. Tal deliberação foi tomada por apenas 80 dos mais de 2300 sócios da ACP, o que é considerado pela sua presidente, Laura Rodrigues, suficientemente representativo...

A ACP é talvez das corporações mais retrógradas deste País e simboliza, como mais nenhuma outra, a debilidade da nossa sociedade civil e a ausência gritante de um verdadeiro espírito associativo. Sentindo-se ameaçados por uma grande cadeia, jamais se lembram os pequenos comerciantes de olharem para si próprios, de introduzirem melhorias nos produtos que comercializam, na decoração das lojas, no nível de serviço ao Cliente, de se associarem para melhor poderem crescer. O seu apelo imediato é para o “paizinho” Estado, clamando sempre por restrições à livre concorrência, seja proibindo a instalação de grandes cadeias retalhistas, seja limitando os horários das já instaladas.

Esta gente recusa-se a compreender que o principal factor de sucesso em qualquer negócio reside na satisfação dos seus Clientes. E os pequenos comerciantes do Porto fazem tudo para “enxotá-los” para as grandes superfícies. E nem sequer aprendem tendo a concorrência ao seu lado: quem circular na Rua de Santa Catarina à hora do almoço ou depois das 19, alturas mais convenientes para poder comprar quem trabalha, ficará limitado ao Via Catarina e à FNAC. Quanto ao sacrossanto pequeno comércio, totalmente encerrado. Não seria muito mais profilático que falisse de vez?

Debates 

O Gabriel lamenta aqui o monopólio dos debates da SIC - Notícias por figuras do regime. Mas seria de esperar outra coisa da televisão do regime?

REVISTA DE BLOGUES VIII 

Os Melhores da Semana
Melhor Texto: “O meu 11 de Setembro”, no Portugal e Arredores;
Melhor Desafio: “A 1ª medida”, no Catalaxia;
Melhor Análise: “O cepticismo é saudável” (I e II), no Liberdade de Expressão;
Melhor Expressão: “Não me linkas nada” no Glória Fácil;
Melhor Observações: “Curtas”, no Mar Salgado;
Melhor Memória: empate entre “O estádio da Nação”, no Aba de Heisenberg, e “Atitudes em vias de extinção”, do CL, aqui no Mata-Mouros;
Melhor Frase: “Dois anos após o 11 de Setembro, o mundo não estará mais seguro. Mas poderia estar seguramente muito mais perigoso”, no Catalaxia;
Melhor Inquietação: “XIX. 11 de Setembro e Blogues Anónimos”, no Ouvido do Barman;
Melhor Constatação: “11 de Setembro atrasado: O exército da Guiné Bissau acaba de derrubar o presidente democraticamente eleito Kumba Ialá. É um novo Chile”, no Liberdade de Expressão;
Melhor(es) Imagens: A Montanha Mágica;
Melhor Humor: “Donald (o Rumsfeld, não o sobrinho do tio Patinhas) disse que o Iraque...”, no Apenas um Pouco Tarde;
Melhor Crítica: “VOZ PRESA, VOZ SOLTA”, no Abrupto;
Melhor Regresso: “Terras do Nunca”;
Melhor Revelação: RepórterX.net;
Melhor Posta: “Alter-dicionário do Mundo ou Um contributo para a educação do Nuno”, no Jaquinzinhos”;
Melhor Blogue: Homem a Dias.

Prémio Especial do júri
Melhor Evocação: a do 11 de Setembro, no Fumaças;

2003/09/14

Confirmou-se o "Não" sueco - mas a Estónia disse "Sim" 

A Suécia votou mesmo "Não" ao Euro. A culpa vai inteirinha para os actuais dirigentes dos destinos da União e dos governos que a integram.
Entretanto, na Nova Europa, a Estónia disse que "Sim" à adesão. É um paradoxo que quem não está cá queira tanto entrar, enquanto que os que já cá andam cada vez tenham mais dúvidas.

E se isto se confirmar? 

Um dos obstáculos que o "ideal" da União Europeia ainda não conseguiu superar é a adesão popular. Uma super-estrutura forjada através de "consensos" tecnocráticos não está a atrair pessoas das mais diversas origens europeias. Ainda é cedo para saber se o Euro é aprovado ou não na Suécia. Mas já podemos concluir que nesta fase da construção europeia seria imperioso que a população dos vários Estados da União estivesse decisivamente ao lado da vontada das suas instituições. O que não acontece. Sempre que as opções europeias são postas às votação DIRECTAMENTE, ou perdem, ou só conseguem vencer com muitas dificuldades.
Sinceramente, não acredito que os eurocratas e os Governos da Europa aceitem referendar o projecto de "constituição" europeia nestas condições. Para eles, é muito mais doce que as decisões se mantenham nos seus gabinetes e em reuniões onde o tal "consenso" está garantido à partida. Tudo o resto é demasiado perigoso...

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