2004/02/21
Não acredito
Segundo a imprensa de hoje, os santanistas asseguram que os próximos dias trarão a reacção de PSL, certamente fulminante, aos virulentos ataques que a sua entrevista de há uma semana tem vindo a receber de quase todos os quadrantes políticos.
Claro que a história já está a ser reescrita - ontem, o Independente transmitia a ideia que Durão estaria completamente alheado da investida de PSL. Hoje, o Expresso (é impressão minha ou estes 2 semanários estão cada vez mais parecidos?) insiste na mesma versão de um PSL traquina e precipitado, frente a um Durão sereno e ponderado.
Ninguém saberá a verdade, se calhar nem sequer alguns dos próprios visados. Muita gente gostaria de acreditar que o arrivismo presidencial de PSL surgiu somente da cabeça do próprio ou por infusão divina. É tudo uma questão de crença.
Por mim não acredito que Durão não soubesse a missa toda.
Não acredito que todo este "gás" que está a ser dado a PSL não tenha Durão / Portas a acicatá-lo.
Não acredito que as principais distritais do PSD fossem apoiar freneticamente PSL sem a benção do "chefe".
Não acredito que a JP e algumas referências do CDS dessem o seu corpo e alma por PSL sem que Portas o quisesse.
Não acredito que Nobre Guedes afirmasse o seu cínico apoio a Cavaco Silva sem que isso constituísse uma manobra concertada visando camuflar - e lançar nuvens de fumo - a verdadeira estratégia de PPortas.
Não acredito na coincidência da entrevista de PSL ser publicada no preciso momento em que o primeiro-ministro estava, comodamente, em Madrid.
Não acredito que o argumento da "maioria presidencial" que conflitua com a "maioria governamental" tivesse brotado da mente generalista e superficial de PSL.
Não acredito que PSL esteja a correr por si, a pensar por si, a gizar estratégias por si.
Pelo contrário, acredito que Cavaco Silva está a ser sacaneado ao mais alto nível.
«O pior ainda está para vir», como hoje assegurou um santanista ao Expresso.
O estado da blogosfera
Anda meio mundo bloguítico a discutir as postas do Abrupto e do Barnabé acerca do panorama dos blogues ditos de direita.
Ao contrário do que é costume, estou genericamente de acordo com o que afirma o Barnabé.
Tanto assim, que considero que esta minha opinião expressada há quase dois meses já está desfasada da realidade actual.
Por isso mesmo, em vez de dissertar acerca dos meandros argumentativos de cada uma das teses, nós, no Mata-Mouros, vamos agir. Rapidamente e em força.
Ao contrário do que é costume, estou genericamente de acordo com o que afirma o Barnabé.
Tanto assim, que considero que esta minha opinião expressada há quase dois meses já está desfasada da realidade actual.
Por isso mesmo, em vez de dissertar acerca dos meandros argumentativos de cada uma das teses, nós, no Mata-Mouros, vamos agir. Rapidamente e em força.
O que é um mau sistema de justiça?
Aquele que face ao absurdo insiste que tudo correu «dentro da maior normalidade» já que todas as regras foram respeitadas.
A ESTRELA DE BELÉM
2004/02/20
Esclareçam-me, por favor!
Alguém percebeu porque que é que o primeiro-ministro fez uma alocução ao país às 13h? Passou-se alguma coisa que ninguém tivesse dado conta?
Eu ouvi, mas não entendi. E aquela das "receitas extraordinárias" que são "extraordinárias" logo insusceptíveis de repetição? Estava a falar de quê?
E aquele slogan «este Governo promete, este Governo cumpre»? Estava a referir-se ao choque fiscal? Ou à retoma que está já aí? Ou ao fim dos compadrios e das "cunhas"? Seria o fim das listas de espera na Saúde? A reforma da Administração? Vai promover Amílcar Theias a Marechal? Apoiá-lo para Presidente da República? O que se passa?
Não percebi. De que promessas estava a falar? Cumprir o quê?
Eu ouvi, mas não entendi. E aquela das "receitas extraordinárias" que são "extraordinárias" logo insusceptíveis de repetição? Estava a falar de quê?
E aquele slogan «este Governo promete, este Governo cumpre»? Estava a referir-se ao choque fiscal? Ou à retoma que está já aí? Ou ao fim dos compadrios e das "cunhas"? Seria o fim das listas de espera na Saúde? A reforma da Administração? Vai promover Amílcar Theias a Marechal? Apoiá-lo para Presidente da República? O que se passa?
Não percebi. De que promessas estava a falar? Cumprir o quê?
Arrasador
Esta crónica já foi mais que badalada e sei que JPP não gosta do termo, mas é o termo! E, perdoe-se-me o primarismo, mas fiquei sadicamente reconfortado.
É que pior que um populismo balofo de fachada modernista, pior que a confrangedora falta de ideias e projectos, pior que a inexistência de qualquer obra relevante ao fim de quase 30 anos na política, é termos de estar diariamente a aturar PSL, qual catraio embirrento e narcisista que se julga fadado para grandes voos e detentor exclusivo de um legado político.
Já aqui afirmei ter há muito deixado de votar nas eleições presidenciais, que considero uma redundância no nosso sistema, face aos reduzidos poderes conferidos ao Presidente. Mas Santana candidato, forçar-me-á a ir à urna votar contra ele! E hoje ganhei mais uma motivação para tal: é que seria francamente empobrecedor ver o MST a desertar e ficarmos sem ninguém que nos revolvesse a bílis à 6ª feira. Tirando os futebóis que não interessam para nada, julgo ser a 1ª vez que estou em total desacordo com este lagarto.
É que pior que um populismo balofo de fachada modernista, pior que a confrangedora falta de ideias e projectos, pior que a inexistência de qualquer obra relevante ao fim de quase 30 anos na política, é termos de estar diariamente a aturar PSL, qual catraio embirrento e narcisista que se julga fadado para grandes voos e detentor exclusivo de um legado político.
Já aqui afirmei ter há muito deixado de votar nas eleições presidenciais, que considero uma redundância no nosso sistema, face aos reduzidos poderes conferidos ao Presidente. Mas Santana candidato, forçar-me-á a ir à urna votar contra ele! E hoje ganhei mais uma motivação para tal: é que seria francamente empobrecedor ver o MST a desertar e ficarmos sem ninguém que nos revolvesse a bílis à 6ª feira. Tirando os futebóis que não interessam para nada, julgo ser a 1ª vez que estou em total desacordo com este lagarto.
PP - Política Pura!
João Pedro Dias lançou-se na blogosfera. Menos "alinhado" do que o nome pode dar a entender.
Bem vindo!
Bem vindo!
Carpideiras e víboras
Da esquerda à direita, anda meia blogosfera quase afogada, tamanha é a choradeira pela saída de cena do Pedro Lomba. Outra meia blogosfera, com algumas sobreposições, range os dentes e vai dando umas ferradelas no recém constituído Clube Cidadania e Liberdade.
Atitudes muito pouco liberais, diga-se! O Pedro Lomba está no seu pleníssimo direito de escrever onde muito bem entender – porventura ganhando com isso – ou deixar pura e simplesmente de o fazer. É uma decisão que só a ele compete e que temos de respeitar, por muito que nos custe deixar de o ler, em definitivo ou à borla.
De modo análogo, não vejo razão para tanto alarido com a constituição do CCL. É verdade que só se fala nisso porque integra um conjunto de notáveis do PS; é verdade que por este País fora há grupos de reflexão constituídos por pessoas anónimas e muitíssimo mais interessantes; é verdade que o CCL tem objectivos exclusivamente partidários e pretende constituir um grupo de pressão dentro do PS, disfarçando tal intuito com um colorido ramalhete de “personalidades independentes”; mas também é verdade que só lá está quem quer e que quem o dinamiza tem todo o direito de o fazer mesmo vendendo gato por lebre. E só não vê isto quem não quer.
Para quê tanta depressão e tanta raiva incontidas?
Atitudes muito pouco liberais, diga-se! O Pedro Lomba está no seu pleníssimo direito de escrever onde muito bem entender – porventura ganhando com isso – ou deixar pura e simplesmente de o fazer. É uma decisão que só a ele compete e que temos de respeitar, por muito que nos custe deixar de o ler, em definitivo ou à borla.
De modo análogo, não vejo razão para tanto alarido com a constituição do CCL. É verdade que só se fala nisso porque integra um conjunto de notáveis do PS; é verdade que por este País fora há grupos de reflexão constituídos por pessoas anónimas e muitíssimo mais interessantes; é verdade que o CCL tem objectivos exclusivamente partidários e pretende constituir um grupo de pressão dentro do PS, disfarçando tal intuito com um colorido ramalhete de “personalidades independentes”; mas também é verdade que só lá está quem quer e que quem o dinamiza tem todo o direito de o fazer mesmo vendendo gato por lebre. E só não vê isto quem não quer.
Para quê tanta depressão e tanta raiva incontidas?
O que é um mau sistema judicial?
Aquele que consegue que o mais execrando troca-tintas apareça aos olhos da opinião pública como uma vítima injustiçada das prepotências e cínicos desmandos de quem tem o "varapau na mão".
FANTAS
Está quase a começar oficialmente.
À meia noite, passa este, no Rivoli:
(AS LOUCAS AVENTURAS DE ELVIRA, cortesia Fantasporto)
À meia noite, passa este, no Rivoli:
(AS LOUCAS AVENTURAS DE ELVIRA, cortesia Fantasporto)
Peixeiradas
Chego de mais uma discussão no Ateneu, desta vez estruturante, e deparo-me com o Besugo de novo em escamação e em furiosas esguichadelas cromossómicas. Meu Caro, brincando embora muitas vezes, isto é um blogue sério – e o seu também, com certeza, mas noutro estilo – e não vou agora deixar que algumas (im)pertinentes mas inocentes pipizadas descambem em decadentes peixeiradas. Isto para lhe dizer que não me importo de continuar a discutir consigo estas conjunturas, bloguices, besuguices, o que quiser, mas terá de ser num duelo real, com copos e charutos a meio, imaginando eu que você não é dos puristas. Pode ser no Ateneu ou noutro sítio qualquer, mas digo-lhe já que irei de sandálias...
E agora retorno aos nobres temas da política e da economia, únicos em que por vezes acerto alguma. Um abraço blogueiro.
E agora retorno aos nobres temas da política e da economia, únicos em que por vezes acerto alguma. Um abraço blogueiro.
2004/02/19
Pipizadas (II)
Xiça, que o Besugo escamou-se e respingou por tudo quanto é guelra! Notava-se que o rapaz estava excitadíssimo, o que é normal quando se escama o besugo (plágio pipiano). Mas tudo se compreende à luz dos motivos nobres e feudais elencados. Está visto, estamos perante um marquês, com um extremado e de facto mui feudal sentido de posse. E não sendo deste tempo, não percebe o que lê e dos costumes nada sabe. Como é que quer que se discuta decentemente a conjuntura, oh p(e)ixote de águas inquinadas? Só pode ser reclinados em cadeirões à volta de uma mesa, patolins em cima da dita, copo de uísque numa mão e um digno Cohiba ou Monte Cristo na outra! E essa das peúgas com bonequinhos só pode ocorrer a uma mente invertida, a exigir não lapidações, mas implantações localizadas de silicone.
A Lolita está, naturalmente, muitíssimo mais avançada, o que não admira, tratando-se de uma distinta dragona. Veja-se como se apresta a suprir uma necessidade sentida por alguém, cobrando obviamente um preço, que não há almoços grátis. No fundo, no fundo, ela é liberal e não sabe - ou ainda não ganhou coragem para assumi-lo. Mas continue Lolita, que vai no bom caminho...
Mas quem me deixou numa angústia existencial foi este biltre, com quem me cruzei ontem em Santa Catarina. Vinha ele de sobretudo, careca devidamente escondida em pedrotiano boné, taco de bilhar ao ombro. Fosse em Chicago e taco à parte, dir-se-ia estarmos na presença de uma reencarnação Al Caponeana. Mas em Santa Catarina, o aspecto era antes o de um patusco e abastado agricultor, membro de uma qualquer Cooperativa Leiteira d’Entre Douro e Minho, fueiro em punho para orientar as turinas.
- Oh homem de Deus, que andas aqui a fazer nesses preparos?
- Acabei de te dar uma tacada! Mas não te ligo, que tu és uma sopeira fedorenta e partidária. Lê o blogue. Eh, eh, eh! – e lá foi ele saltitando e esfregando furiosamente o taco com giz.
Instintivamente, levei a mão à cabeça e à nuca, pesquisando lenço e nós. Apenas tacteei a minha (ainda) farta cabeleira. Olhei por mim abaixo e vi-me de blazer algo coçado, mas apresentável, calça bem vincada, sapatos bem engraxadinhos e nada de chinelos de enfiar no dedo. Procurei por esfregão e balde nas redondezas, mas nem cheiro. A equiparar-se a uma sopeira, quando muito duas bem torneadas e farfalhudas pernas, mas recatadamente cobertas com calça de boa fazenda. Tirei o casaco e cheirei furiosamente os sovacos. Nada de especial, mas o meu olfacto não é famoso. Por precaução, entrei numa perfumaria e despejei dois frascos do mais intenso por mim abaixo. Com intermináveis reuniões – das quais saí algo preocupado, pois notei em todos os meus colaboradores um ar doentio, aspecto agoniado, tez esverdeada, sintoma porventura de alguma virose – só consegui ler o Catalaxia ao serão.
Li e reli, em vão procurei entrelinhas e nada percebi. Raios o partam, o que é que ele quis dizer? Enfim, deixei de pensar nisso e passei à diária leitura blogueira. Quando passei por aqui, fez-se-me luz. O estupor anda armado em bilharista e eu servi-lhe de tabela, porra!
Precisas porém de treinar a pontaria, meu Caro. Pelo menos em termos cronológicos...
A Lolita está, naturalmente, muitíssimo mais avançada, o que não admira, tratando-se de uma distinta dragona. Veja-se como se apresta a suprir uma necessidade sentida por alguém, cobrando obviamente um preço, que não há almoços grátis. No fundo, no fundo, ela é liberal e não sabe - ou ainda não ganhou coragem para assumi-lo. Mas continue Lolita, que vai no bom caminho...
Mas quem me deixou numa angústia existencial foi este biltre, com quem me cruzei ontem em Santa Catarina. Vinha ele de sobretudo, careca devidamente escondida em pedrotiano boné, taco de bilhar ao ombro. Fosse em Chicago e taco à parte, dir-se-ia estarmos na presença de uma reencarnação Al Caponeana. Mas em Santa Catarina, o aspecto era antes o de um patusco e abastado agricultor, membro de uma qualquer Cooperativa Leiteira d’Entre Douro e Minho, fueiro em punho para orientar as turinas.
- Oh homem de Deus, que andas aqui a fazer nesses preparos?
- Acabei de te dar uma tacada! Mas não te ligo, que tu és uma sopeira fedorenta e partidária. Lê o blogue. Eh, eh, eh! – e lá foi ele saltitando e esfregando furiosamente o taco com giz.
Instintivamente, levei a mão à cabeça e à nuca, pesquisando lenço e nós. Apenas tacteei a minha (ainda) farta cabeleira. Olhei por mim abaixo e vi-me de blazer algo coçado, mas apresentável, calça bem vincada, sapatos bem engraxadinhos e nada de chinelos de enfiar no dedo. Procurei por esfregão e balde nas redondezas, mas nem cheiro. A equiparar-se a uma sopeira, quando muito duas bem torneadas e farfalhudas pernas, mas recatadamente cobertas com calça de boa fazenda. Tirei o casaco e cheirei furiosamente os sovacos. Nada de especial, mas o meu olfacto não é famoso. Por precaução, entrei numa perfumaria e despejei dois frascos do mais intenso por mim abaixo. Com intermináveis reuniões – das quais saí algo preocupado, pois notei em todos os meus colaboradores um ar doentio, aspecto agoniado, tez esverdeada, sintoma porventura de alguma virose – só consegui ler o Catalaxia ao serão.
Li e reli, em vão procurei entrelinhas e nada percebi. Raios o partam, o que é que ele quis dizer? Enfim, deixei de pensar nisso e passei à diária leitura blogueira. Quando passei por aqui, fez-se-me luz. O estupor anda armado em bilharista e eu servi-lhe de tabela, porra!
Precisas porém de treinar a pontaria, meu Caro. Pelo menos em termos cronológicos...
2004/02/18
Futebol & Cia
O texto que se segue é sobre futebol, mas pode perfeitamente aplicar-se a outros aspectos da realidade portuguesa:
A nation has made itself neurotic with incessant chatter about the "golden generation" who featured in either or both of those triumphs. Ambition is essential but men raised to be obsessed with their own supposed destiny must also be vulnerable.
A nation has made itself neurotic with incessant chatter about the "golden generation" who featured in either or both of those triumphs. Ambition is essential but men raised to be obsessed with their own supposed destiny must also be vulnerable.
Sinceramente
penso que a sentença do caso de Aveiro veio colocar um fim na hipótese de existirem mais processos crime por práticas abortivas em Portugal. Independentemente de eventuais referendos futuros.
Os juízes demonstraram que não estão ali para condenar esse tipo de arguidos - aproveitaram o pretexto mais insignificante para rejeitarem provas e não relevar as que constavam no processo.
A mensagem que passa para a PJ e o Ministério Público é clara: não vale a pena incomodarem-se! Não percam tempo com estes assuntos!
Ninguém poderá estranhar esta atitude dos juízes portugueses - pois não foi o próprio primeiro-ministro de Portugal que assegurou que não conseguiria «mandar mulheres que abortaram para a cadeia» e que a mudança da actual legislação é somente uma questão de timing político?
O que se passa é paradigmaticamente português:
1. Existe uma lei.
2. Quase ninguém a cumpre ou faz cumprir.
3. Aparentemente, existem duas facções mas as clínicas de aborto trabalham às claras e com o conhecimento de todos.
4. Quando, esporadicamente, as autoridades investigam e elaboram processos o poder político põe-se de fora.
5. Não muda a lei, mas diz que não concorda com os seus comandos.
6. Não se fazendo rogados, os juízes enveredam por um formalismo enviesado e direccionado absolvendo toda a gente.
7. Todos ficam felizes.
8. As consciências mais beatas ficaram confortadas porque houve um processo mas ninguém se "magoou".
9. Os activistas das causas folclóricas porque, boçalmente, julgam ter obtido uma vitória.
10. Os políticos profissionais rejubilam porque a temperatura arrefeceu e, ainda, ao constataram que a sua pose "politicamente correcta" está elevada a dogma nacional.
Esta é a nossa eterna sapiência lusitana: não fazer o que dizemos a todos que deve ser feito e convivermos em permanente estado de consenso abúlico de fingirmos ignorar o que todos sabem.
Adaptem-se as várias condutas deste caso ao que se passa na evasão fiscal, na reforma da Administração, no novo Código de Trabalho, nos truques governamentais no Orçamento de Estado, na situação das Universidades e no ensino em geral, ao que se passa na Justiça, nos números das listas de espera, etc.
O espírito de EPC paira sobre todos nós.
Os juízes demonstraram que não estão ali para condenar esse tipo de arguidos - aproveitaram o pretexto mais insignificante para rejeitarem provas e não relevar as que constavam no processo.
A mensagem que passa para a PJ e o Ministério Público é clara: não vale a pena incomodarem-se! Não percam tempo com estes assuntos!
Ninguém poderá estranhar esta atitude dos juízes portugueses - pois não foi o próprio primeiro-ministro de Portugal que assegurou que não conseguiria «mandar mulheres que abortaram para a cadeia» e que a mudança da actual legislação é somente uma questão de timing político?
O que se passa é paradigmaticamente português:
1. Existe uma lei.
2. Quase ninguém a cumpre ou faz cumprir.
3. Aparentemente, existem duas facções mas as clínicas de aborto trabalham às claras e com o conhecimento de todos.
4. Quando, esporadicamente, as autoridades investigam e elaboram processos o poder político põe-se de fora.
5. Não muda a lei, mas diz que não concorda com os seus comandos.
6. Não se fazendo rogados, os juízes enveredam por um formalismo enviesado e direccionado absolvendo toda a gente.
7. Todos ficam felizes.
8. As consciências mais beatas ficaram confortadas porque houve um processo mas ninguém se "magoou".
9. Os activistas das causas folclóricas porque, boçalmente, julgam ter obtido uma vitória.
10. Os políticos profissionais rejubilam porque a temperatura arrefeceu e, ainda, ao constataram que a sua pose "politicamente correcta" está elevada a dogma nacional.
Esta é a nossa eterna sapiência lusitana: não fazer o que dizemos a todos que deve ser feito e convivermos em permanente estado de consenso abúlico de fingirmos ignorar o que todos sabem.
Adaptem-se as várias condutas deste caso ao que se passa na evasão fiscal, na reforma da Administração, no novo Código de Trabalho, nos truques governamentais no Orçamento de Estado, na situação das Universidades e no ensino em geral, ao que se passa na Justiça, nos números das listas de espera, etc.
O espírito de EPC paira sobre todos nós.
2004/02/17
Pipizadas
Em tempos remotos que já lá vão – no passado dia 12 – ocorreu um evento socio-blogosférico que já devia ter relatado nestas páginas. A verdade é que não tenho grande jeito para cronista social (também já imaginaram actividade mais rota?), mas por deferência ao simpático convite da Charlotte, lá fui na passada 5ª feira ao lançamento do livro do Pipi no Porto (outra rotice). Diga-se que o convite – uma folha em plástico, de formato circular e cor amarela – era totalmente larilas e deixou-me logo de pé atrás. Ao ver o nome do local do evento – Clube Pink – dissiparam-se-me todas as dúvidas: aquilo era um antro de rabetas, pela certa.
Risco demais para um homem só, pensei. Daí que tratei de assegurar também a presença dos meus colegas matadores, mas sem sucesso integral: o CL chegaria muito mais tarde, por compromissos docentes (e mais decentes, sem dúvida); o CAA esquivou-se com umas actividades neo-democratas, cuja natureza não percebi muito bem, mas que me cheiraram a desculpa de mau pagador, a tentar encobrir politicamente as suas obrigações de neo-pai (mudança de fraldas oblige). Por uma questão de precaução, mobilizei também o Rui e o Gabriel, para além de blogueiros, velhos companheiros da Tertúlia das Antas.
Descobrir o sítio foi complicado! Eu jamais ouvira falar no Largo do Priorado e os meus companheiros muito menos (vergonha de tripeiros, sem honra nem glória!). Mas um de nós lá obteve a informação que aquilo seria para as bandas do Rodrigues de Freitas (D. Manuel II era nos tempos do fascismo, Gabriel!)
Às 22,00 horas, estava eu a estacionar o carro no largo existente na confluência das Ruas Ricardo Severo, da Saudade e da Paz, julgando ser o do Priorado. Só que placas não havia – vou ter de zurzir o Rui Rio por causa da toponímia – e lá me pus à procura do Clube Rosado. Desço a pé até ao Rodrigues de Freitas, volto a subir e Clube nem vê-lo. Aquilo deve ser mesmo coisa clandestina, pensei. Desço de novo até ao Liceu e, já desanimado, pergunto a um senhor que de lá saía com ar respeitável de professor de Línguas Clássicas, onde ficava o Largo do Priorado.
- Começa nesta rua a 100 metros daqui - respondeu-me amavelmente apontando para o lado oposto donde eu viera.
- E, já agora, conhece o Clube Pink?
- Não conheço, caro senhor, mas imagino que seja na entrada debaixo daquele letreiro de cor bizarra - retorquiu-me de forma mais ríspida e lançando-me um olhar que era um misto de surpresa e desdém.
Agradeci-lhe de forma encabulada e pirei-me de imediato. Naturalíssima a reacção do homem, pensando como as aparências iludem. É que eu até nem estava mal aperaltado, fatinho completo de executivo, para yuppy só me faltavam os suspensórios (ficariam inestéticos em cima do colete...)
Vou buscar o carro e estaciono mesmo em frente à entrada (milagre!!!). Entretanto o Rui telefona-me pela 15ª vez, totalmente furibundo, porque também não encontrava o sítio. Aguardo que ele chegue, enquanto vou apreciando a diversificada fauna que ia entrando. Concluo que afinal estava muito mal aperaltado. Vestimenta adequada para o local seriam roupas de cor lilás ou grená, chapéu emplumado, sapatos de verniz e um variado conjunto de artefactos que deviam incluir obrigatoriamente olhos pintados, colarzinhos de missangas, uns 50 piercings cravejados no fácies e apaneleirada tatuagem no ombro ou no tornozelo.
Entretanto chega o Rui, também engravatadinho e com ar todo burguês, respeitável careca e empunhando nos queixos clintoniano charuto (ou seria clitoriano? Confesso que isto de charutos não é o meu forte...). Começa logo a vociferar à entrada com os ambientes, ele que nunca teve dúvidas quanto à natureza do sítio. Claro que naquele meio constituíamos autênticas avis raras e estava tudo a olhar para nós.
- Preferia isto quando era um restaurante indiano. Sempre cheirava melhor – resmungava o homem entre duas baforadas.
- Calma, que isto não é assim tão mau. Olha, já estou a ser galado por aquela “pêssega”.
- Não te excites, que aquilo é um “pêssego” recauchutado!
- Porra!!!
- Mas, de facto, como bons liberais não nos podemos queixar. Sempre vai havendo escolhas...
Feita a vistoria no rés-do-chão, subimos ao 1º piso, sempre com as costas prudentemente encostadas à parede. Diga-se que as baforadas charutais do Rui eram um bálsamo para amenizar o intenso fedor a pat julie que se fazia sentir. Chegados ao cimo, lobrigámos num canto o Gabriel e o João. Finalmente, gente conhecida e de confiança, a quem nos juntámos de imediato, formando um grupinho algo comprometido, mas conspirativo.
Eis senão quando passa por nós um vulto deslumbrante, vestido negro justinho a realçar a anatomia curvilínea, loiraça intrigante (natural? Não acredito, tem ar inteligente...).
- Ena, que bomba! – exclamei instintivamente
- Ouvi falar em bomba!
- Fui eu!
Uma chusma de gente (?) interpôs-se entre nós, o que me impossibilitou de encetar a conversa. Mas fui eu o autor da interjeição, Charlotte! Raios, como é que foi confundir a minha (ainda) farta e penteadinha cabeleira com a luzidia careca do Rui???
Entretanto chegou o CL e daí a momentos começou a apresentação que valeu pela voz cálida e cristalina da Charlotte, elencando algum vocabulário pipiano – tudo rotices, claro. Mas aquilo dito por ela faz-nos fervilhar o imaginário... Depois falou um rapazolas com ar de bétinho imberbe, com um discurso recheado de pretensiosismos culturais. Afiançaram-me ser o JPC, personagem em quem luz muito talento, mas a quem falta vaporoso alento, para da emulação do VPV fazer o seu sustento. Seguiu-se uma récita de frases pipianas feita em tom pastoso e monocórdico por um sujeito de pêlo na venta, que era nem mais nem menos que o meu prezado semi-conterrâneo – porra Alberto, ler meia posta sua é 55.000 vezes mais saboroso e gratificante que ouvi-lo a declamar pipizadas decadentes!
A “cereja no bolo” foi a projecção de um documentário série X protagonizado pelo autor, que apareceu disfarçado de etarra imaculado – os capuzes eram brancos! Mas o gajo deve estar xéxé! Então não é que recusa mãe e filha, chichinha da boa e se enrodilha com uma cabritinha? Está visto, depois da rotice e da geriofilia, o homem entrou na fase pedo-zoófila...
E teve direito a bis, aquele documentário insane. E ainda bem, que assim houve alguma debandada e deu para ficarmos mais à vontade. Terminada a projecção, passámos às apresentações mútuas, começando naturalmente pela Charlotte que, desgraçadamente, não me tinha fixado aquando da minha exclamação bombástica. Claro que estou angustiadíssimo! Aproveitei para cumprimentar (e conhecer) o Alberto e zurzi-lo pelas suas indesculpáveis faltas aos jantares da Tertúlia das Antas. Mais uma falha e não haverá semi-conterraneidade que lhe valha: sai irreversivelmente das convocatórias! Rapaz simpático, o João Pereira Coutinho, que me foi apresentado pelo Alberto (temos de linkar aquele gajo, CL, uma omissão grave da nossa parte; mais não fosse, a crónica no Expresso, que teve réplica Alegre, a desancar na poesia rabeta do Ary, merece “santificação”). Teremos sido vistos por um Bicho dito Mau, mas não conseguimos lobrigá-lo (também, no meio de toda aquela bicheza...). Bom ou Mau, para a próxima chegue-se, que diabo! Soube entretanto que também por lá andou o J Canhoto. Oh homem, você afinal também é tripeiro? Vou convidá-lo para o próximo jantar da Tertúlia! Temos uma discussão sobre chinos e xenófobos para pôr em dia... Ainda andei a ver se encontrava a Dragona minha preferida (que frustração no domingo, Lolita!) e a Beleza Agri-Doce da blogosfera. Não as conheço, mas são gente fina e, no meio daquela maltósia, topava-as, pela certa. Meio clandestino, cirandava por lá o FRS, que anda há quase meio ano a prometer lançar um blogue intimista (coisa mais panilas!), mas ainda não lançou coisa nenhuma. Entraste à pala de alguém, sacanóide, que tu não tinhas convite! Ou então..., serás da casa?...
No meio de todo este frenesim, avisto o Rui encostado ao canto do bar, com o seu eterno ar blasé, charuto de 40 cm já quase consumido, copo vazio e semblante algo contrariado:
- Luís, vamo-nos pirar, que isto já deu o que tinha a dar. Vamos beber um copo a um sítio sossegado e onde possamos cortar na casaca à vontade.
Arrastamos também o CL e o Gabriel e lá fomos “regar” a noite com mais uns uísques num vetusto salão do Ateneu, discutindo animadamente a conjuntura e a estrutura. Mas isso será tema para outras postas...
Enfim, a festa valeu a pena por ter conhecido a Charlotte, senhora de um charme e simpatia transbordantes e irradiantes. Foi de facto divertido.
E por aqui me fico, que nunca imaginei tanto escrever sem nada dizer. Parece que é assim nas “crónicas sociais” por muito que o JPP se escandalize. Mas esse gajo não sabe rir e a vida também é feita destas futilidades. Marque a próxima, Charlotte!
Risco demais para um homem só, pensei. Daí que tratei de assegurar também a presença dos meus colegas matadores, mas sem sucesso integral: o CL chegaria muito mais tarde, por compromissos docentes (e mais decentes, sem dúvida); o CAA esquivou-se com umas actividades neo-democratas, cuja natureza não percebi muito bem, mas que me cheiraram a desculpa de mau pagador, a tentar encobrir politicamente as suas obrigações de neo-pai (mudança de fraldas oblige). Por uma questão de precaução, mobilizei também o Rui e o Gabriel, para além de blogueiros, velhos companheiros da Tertúlia das Antas.
Descobrir o sítio foi complicado! Eu jamais ouvira falar no Largo do Priorado e os meus companheiros muito menos (vergonha de tripeiros, sem honra nem glória!). Mas um de nós lá obteve a informação que aquilo seria para as bandas do Rodrigues de Freitas (D. Manuel II era nos tempos do fascismo, Gabriel!)
Às 22,00 horas, estava eu a estacionar o carro no largo existente na confluência das Ruas Ricardo Severo, da Saudade e da Paz, julgando ser o do Priorado. Só que placas não havia – vou ter de zurzir o Rui Rio por causa da toponímia – e lá me pus à procura do Clube Rosado. Desço a pé até ao Rodrigues de Freitas, volto a subir e Clube nem vê-lo. Aquilo deve ser mesmo coisa clandestina, pensei. Desço de novo até ao Liceu e, já desanimado, pergunto a um senhor que de lá saía com ar respeitável de professor de Línguas Clássicas, onde ficava o Largo do Priorado.
- Começa nesta rua a 100 metros daqui - respondeu-me amavelmente apontando para o lado oposto donde eu viera.
- E, já agora, conhece o Clube Pink?
- Não conheço, caro senhor, mas imagino que seja na entrada debaixo daquele letreiro de cor bizarra - retorquiu-me de forma mais ríspida e lançando-me um olhar que era um misto de surpresa e desdém.
Agradeci-lhe de forma encabulada e pirei-me de imediato. Naturalíssima a reacção do homem, pensando como as aparências iludem. É que eu até nem estava mal aperaltado, fatinho completo de executivo, para yuppy só me faltavam os suspensórios (ficariam inestéticos em cima do colete...)
Vou buscar o carro e estaciono mesmo em frente à entrada (milagre!!!). Entretanto o Rui telefona-me pela 15ª vez, totalmente furibundo, porque também não encontrava o sítio. Aguardo que ele chegue, enquanto vou apreciando a diversificada fauna que ia entrando. Concluo que afinal estava muito mal aperaltado. Vestimenta adequada para o local seriam roupas de cor lilás ou grená, chapéu emplumado, sapatos de verniz e um variado conjunto de artefactos que deviam incluir obrigatoriamente olhos pintados, colarzinhos de missangas, uns 50 piercings cravejados no fácies e apaneleirada tatuagem no ombro ou no tornozelo.
Entretanto chega o Rui, também engravatadinho e com ar todo burguês, respeitável careca e empunhando nos queixos clintoniano charuto (ou seria clitoriano? Confesso que isto de charutos não é o meu forte...). Começa logo a vociferar à entrada com os ambientes, ele que nunca teve dúvidas quanto à natureza do sítio. Claro que naquele meio constituíamos autênticas avis raras e estava tudo a olhar para nós.
- Preferia isto quando era um restaurante indiano. Sempre cheirava melhor – resmungava o homem entre duas baforadas.
- Calma, que isto não é assim tão mau. Olha, já estou a ser galado por aquela “pêssega”.
- Não te excites, que aquilo é um “pêssego” recauchutado!
- Porra!!!
- Mas, de facto, como bons liberais não nos podemos queixar. Sempre vai havendo escolhas...
Feita a vistoria no rés-do-chão, subimos ao 1º piso, sempre com as costas prudentemente encostadas à parede. Diga-se que as baforadas charutais do Rui eram um bálsamo para amenizar o intenso fedor a pat julie que se fazia sentir. Chegados ao cimo, lobrigámos num canto o Gabriel e o João. Finalmente, gente conhecida e de confiança, a quem nos juntámos de imediato, formando um grupinho algo comprometido, mas conspirativo.
Eis senão quando passa por nós um vulto deslumbrante, vestido negro justinho a realçar a anatomia curvilínea, loiraça intrigante (natural? Não acredito, tem ar inteligente...).
- Ena, que bomba! – exclamei instintivamente
- Ouvi falar em bomba!
- Fui eu!
Uma chusma de gente (?) interpôs-se entre nós, o que me impossibilitou de encetar a conversa. Mas fui eu o autor da interjeição, Charlotte! Raios, como é que foi confundir a minha (ainda) farta e penteadinha cabeleira com a luzidia careca do Rui???
Entretanto chegou o CL e daí a momentos começou a apresentação que valeu pela voz cálida e cristalina da Charlotte, elencando algum vocabulário pipiano – tudo rotices, claro. Mas aquilo dito por ela faz-nos fervilhar o imaginário... Depois falou um rapazolas com ar de bétinho imberbe, com um discurso recheado de pretensiosismos culturais. Afiançaram-me ser o JPC, personagem em quem luz muito talento, mas a quem falta vaporoso alento, para da emulação do VPV fazer o seu sustento. Seguiu-se uma récita de frases pipianas feita em tom pastoso e monocórdico por um sujeito de pêlo na venta, que era nem mais nem menos que o meu prezado semi-conterrâneo – porra Alberto, ler meia posta sua é 55.000 vezes mais saboroso e gratificante que ouvi-lo a declamar pipizadas decadentes!
A “cereja no bolo” foi a projecção de um documentário série X protagonizado pelo autor, que apareceu disfarçado de etarra imaculado – os capuzes eram brancos! Mas o gajo deve estar xéxé! Então não é que recusa mãe e filha, chichinha da boa e se enrodilha com uma cabritinha? Está visto, depois da rotice e da geriofilia, o homem entrou na fase pedo-zoófila...
E teve direito a bis, aquele documentário insane. E ainda bem, que assim houve alguma debandada e deu para ficarmos mais à vontade. Terminada a projecção, passámos às apresentações mútuas, começando naturalmente pela Charlotte que, desgraçadamente, não me tinha fixado aquando da minha exclamação bombástica. Claro que estou angustiadíssimo! Aproveitei para cumprimentar (e conhecer) o Alberto e zurzi-lo pelas suas indesculpáveis faltas aos jantares da Tertúlia das Antas. Mais uma falha e não haverá semi-conterraneidade que lhe valha: sai irreversivelmente das convocatórias! Rapaz simpático, o João Pereira Coutinho, que me foi apresentado pelo Alberto (temos de linkar aquele gajo, CL, uma omissão grave da nossa parte; mais não fosse, a crónica no Expresso, que teve réplica Alegre, a desancar na poesia rabeta do Ary, merece “santificação”). Teremos sido vistos por um Bicho dito Mau, mas não conseguimos lobrigá-lo (também, no meio de toda aquela bicheza...). Bom ou Mau, para a próxima chegue-se, que diabo! Soube entretanto que também por lá andou o J Canhoto. Oh homem, você afinal também é tripeiro? Vou convidá-lo para o próximo jantar da Tertúlia! Temos uma discussão sobre chinos e xenófobos para pôr em dia... Ainda andei a ver se encontrava a Dragona minha preferida (que frustração no domingo, Lolita!) e a Beleza Agri-Doce da blogosfera. Não as conheço, mas são gente fina e, no meio daquela maltósia, topava-as, pela certa. Meio clandestino, cirandava por lá o FRS, que anda há quase meio ano a prometer lançar um blogue intimista (coisa mais panilas!), mas ainda não lançou coisa nenhuma. Entraste à pala de alguém, sacanóide, que tu não tinhas convite! Ou então..., serás da casa?...
No meio de todo este frenesim, avisto o Rui encostado ao canto do bar, com o seu eterno ar blasé, charuto de 40 cm já quase consumido, copo vazio e semblante algo contrariado:
- Luís, vamo-nos pirar, que isto já deu o que tinha a dar. Vamos beber um copo a um sítio sossegado e onde possamos cortar na casaca à vontade.
Arrastamos também o CL e o Gabriel e lá fomos “regar” a noite com mais uns uísques num vetusto salão do Ateneu, discutindo animadamente a conjuntura e a estrutura. Mas isso será tema para outras postas...
Enfim, a festa valeu a pena por ter conhecido a Charlotte, senhora de um charme e simpatia transbordantes e irradiantes. Foi de facto divertido.
E por aqui me fico, que nunca imaginei tanto escrever sem nada dizer. Parece que é assim nas “crónicas sociais” por muito que o JPP se escandalize. Mas esse gajo não sabe rir e a vida também é feita destas futilidades. Marque a próxima, Charlotte!
A polémica sobre o THE PASSION OF THE CHRIST
Fiquei um pouco desconcertado com a posta "Sagrada Violência ou Jesus Segundo Mel Gibson", na Rua da Judiaria. Ao contrário do costume, Nuno Guerreiro rotula mais do que analisa, sentencia em claro preconceito, em vez da abertura de espírito com que nos habituou.
«Sangue a rodos, intermináveis grandes planos de feridas e uma violência brutal marcam todo o filme», diz o Nuno.
Não tive ainda a sorte de ver o filme, mas acredito.
Mas, não nos esqueçamos, esta obra é uma confessada tentativa de narrar as últimas 12 horas de Cristo conforme são relatadas por S. Mateus. Pretende ser uma transposição fiel para o cinema daquilo que consta no referido Evangelho. E quem quer que se der ao trabalho de o ler verificará que essa brutalidade está claramente presente na fonte. Logo, um filme com essa predisposição narrativa teria de possuir um conteúdo igualmente violento.
Cristo, segundo os Evangelhos, foi ferozmente torturado antes de ser crucificado. O tema da "Paixão" foi omnipresente na cultura ocidental. Música, literatura, pintura, todas as formas de arte, retrataram o pavoroso sofrimento de Jesus do modo mais real e cru.
Se, até agora, os numerosos filmes que abordam este tema parecem "suavizar" este facto, isso sim, será uma atitude de afronta à verdade factual em que a religião cristã pretende assentar. E - isso sim, repito - é que é de condenar.
A questão da responsabilidade da execução de Jesus (Pilatos ou os sacerdotes do Templo?) parece-me de ultrapassar. Tenho consciência de que o anti-semitismo é real. Tenho as maiores dúvidas se o tema da culpa na morte de Jesus motiva e alimenta esse vírus, no mundo de hoje.
E o argumento anteriormente aduzido, vale aqui também: se o filme quer ser uma transcrição real do Evangelho - e o Nuno admite que o é - então, inegavelmente, esse relato escrito nos finais do século I aponta os sacerdotes do Templo como os instigadores da condenação de Jesus. Cerca de 1900 anos depois, não julgo que tal seja especialmente problemático.
Obrigar Mel Gibson a cortar excertos que estão presentes, ipsis verbis, no Evangelho de Mateus parece-me eticamente duvidoso e contraproducente. I. é, os efeitos que podem decorrer de todo este ribombar à volta do filme podem dar alimento a intuitos anti-semitas, muito mais do que aquilo que está escrito nos Evangelhos.
Apetece perguntar às organizações que militam contra a existência desses excertos se não pretendem, também, censurar o próprio texto dos Evangelhos em que o filme se baseia?!?
Mas o "defeito intolerante" em que esta análise do Nuno resvala é patente quando desata a «ler as entrelinhas do filme de Gibson».
O Nuno justifica o desdém pela obra através das origens do seu autor: "ele" é um membro de uma seita católica fundamentalista; o "pai dele" também.
Existiria, de acordo com essa tese, uma rede de organizações, com intuitos mais ou menos conspirativos e eivadas de fanatismos vários, por detrás do filme.
Aliás, na perspectiva do Nuno, esse pecado de origem seria confirmado pela «campanha de promoção do filme de Mel Gibson em vários blogs portugueses de extrema-direita (para não dizer mesmo fascistas) ».
Só espero que nesse "rol dos malditos" o Nuno não tenha incluído o Mata-Mouros. O que nos move é a Liberdade. Também, claro, a liberdade de expressão em que se deve incluir toda a polémica à volta deste filme.
Esta análise crítica ao filme de Mel Gibson num (excelente) blogue assumidamente judeu é demasiado estranha. Sobretudo este último lote de razões. Cuidado com o filme porque vem dali! O filme não presta (ou pouco presta) porque foi feito por eles!
Sem qualquer acinte, faz-me lembrar o tipo de argumentos que por vezes se ouvem contra as obras da autoria de judeus: são "eles", os mesmos de sempre. Por tudo e por nada os judeus têm sido - e são - atacados com a "terrível" acusação de serem ... judeus! (Ainda há pouco aquele Cardeal belga asneou nesse sentido) E aquilo que fazem será avaliado pelas origens do autor, em vez do eventual mérito da obra em si.
É exactamente o que Nuno fez com este filme.
Da Rua da Judiaria esperava mais. E melhor.
P.S. Para que conste e não haja lugar a confusões, o signatário não é membro de qualquer seita de cariz religioso. Nem sequer é católico ou mesmo cristão.
Circula...
O post 392 do Bloguítica refere um certo rumor acerca de um Secretário de Estado.
Esse rumor já tem vários meses. A principal surpresa - para muita boa gente - surgiu no momento quando esse senhor foi escolhido para trabalhar com um ministro do outro partido da coligação de quem se dizia ferrenho adversário. Conviria estudar melhor o percurso político (e universitário) da pessoa em causa.
Demasiadas coincidências. Depois queixem-se de se recearem a existência de lobbys "coloridos".
Apesar de tudo não deixa de existir uma certa ironia nas pastas que lhes estão atribuídas.
Só queria ver a cara daqueles sisudos profissionais que esse ministério tutela quando são confrontados com as exuberâncias e os maneirismos desses senhores, juntamente com os dos assessores, chefes de gabinete e demais "rapaziada" que foi para lá trabalhar.
Qualquer dia até o Herman é conselheiro estratégico daquela área...
Esse rumor já tem vários meses. A principal surpresa - para muita boa gente - surgiu no momento quando esse senhor foi escolhido para trabalhar com um ministro do outro partido da coligação de quem se dizia ferrenho adversário. Conviria estudar melhor o percurso político (e universitário) da pessoa em causa.
Demasiadas coincidências. Depois queixem-se de se recearem a existência de lobbys "coloridos".
Apesar de tudo não deixa de existir uma certa ironia nas pastas que lhes estão atribuídas.
Só queria ver a cara daqueles sisudos profissionais que esse ministério tutela quando são confrontados com as exuberâncias e os maneirismos desses senhores, juntamente com os dos assessores, chefes de gabinete e demais "rapaziada" que foi para lá trabalhar.
Qualquer dia até o Herman é conselheiro estratégico daquela área...
Sem mais
Diz, acertadamente, o Gabriel:
«É PENA
que a ministra Celeste Cardona venha a sair do Governo por razões de tricas políticas internas e não pela sua responsabilidade na retenção ilegal das constribuições sociais de 600 trabalhadores do seu ministério.»
«É PENA
que a ministra Celeste Cardona venha a sair do Governo por razões de tricas políticas internas e não pela sua responsabilidade na retenção ilegal das constribuições sociais de 600 trabalhadores do seu ministério.»
Liberalização do preço dos combustíveis à portuguesa
Em menos de um mês, o Governo volta a aumentar o preço do Imposto sobre os Produtos Petrolíferos.
Ver aqui a Portaria de 23 de Janeiro e a nova, de 12 de Fevereiro.
Vale a pena ler os preâmbulos das referidas Portarias, para compreender as razões dos aumentos.
(Via cidadão livre)
Ver aqui a Portaria de 23 de Janeiro e a nova, de 12 de Fevereiro.
Vale a pena ler os preâmbulos das referidas Portarias, para compreender as razões dos aumentos.
(Via cidadão livre)
2004/02/16
Mudança de nome
O Democracia Liberal passou a chamar-se Ideias Liberais.
Nome diferente, mas, certamente, a qualidade permanecerá.
Nome diferente, mas, certamente, a qualidade permanecerá.
Liberdade de Imprensa?
Títula o Correio da Manhã: "Carrilho Rouba Fotógrafo".
Afinal, parece que Manuel Maria carrilho não assentou dois sopapos no "repórter fotográfico" que, dentro de um carro, fotografava o ex-Ministro e família à saída de casa.
É pena. Teriam sido bem dados.
Afinal, parece que Manuel Maria carrilho não assentou dois sopapos no "repórter fotográfico" que, dentro de um carro, fotografava o ex-Ministro e família à saída de casa.
É pena. Teriam sido bem dados.
Santana, Marcelo e as Presidenciais
Na entrevista que deu ao Expresso de sábado, Santana Lopes afirmava, numa das suas respostas, conter-se nas suas afirmações, para não ser cilindrado (não era bem esta a expressão), pelo Professor Marcelo nos seus comentários.
Apesar disso, o Professor não deixou passar em branco o "facto político" do fim de semana, afirmando que Santana cometeu três erros, apesar de a entrevista ser, na sua perspectiva, "esperável".
O primeiro erro de Santana, segundo Marcelo, foi a incoerência do primeiro, ao ter afirmado, não há muito tempo, que Cavaco seria o candidato natural e que até só avançaria caso Cavaco não fosse a jogo, para afirmar, agora, que Cavaco não serve, porque vai dar cabo da "coligação". E com isso, acrescentou ainda Marcelo, Santana pode tornar-se responsável pelo não avanço do economista de Boliqueime, que, caso a sua peculiar idiossincrasia o faça continuar no seu canto, surgirá aos olhos de todos como uma vítima, precisamente de Santana. Além disso, se Cavaco não avançar e se Santana perder as eleições, ficará a pairar eternamente a dúvida (retórica): Teria Cavaco ganho as eleições? Será que Cavaco não concorreu por causa de Santana Lopes? É Santana o único responsável pela permanência da esquerda na Presidência?
Marcelo explicou os erros de Santana, como explicou aquilo que Santana deveria ter feito (basicamente, estabelecer o timing da apresentação da sua candidatura sem hostilizar Cavaco...).
Mas ao ouvir Marcelo explicar o que Santana deveria ter feito, o que vi foi Marcelo a explicar o que ele próprio (Marcelo) está a fazer: Não fecha a porta à sua própria candidatura a Belém, não hostiliza Cavaco, não se põe em bicos de pés a dizer "eu é que quero ser o presidente da junta" e, ao mesmo tempo, com a ironia mordaz em que é mestre, aproveita habilmente o flanco que Santana Lopes, mais ou menos consciente, lhe oferece numa entrevista apressada.
Com isto, provoca Cavaco, que, por birra, é bem capaz de não avançar, por falta de paciência para medir forças com Santana numas "primárias à portuguesa" (Marcelo sabe que Cavaco dificilmente avançará senão levado em ombros), ao mesmo tempo que debilita, pegando na argumentação de Santana Lopes, as probabilidades da aceitação da candidatura deste no seio do PSD, posicionando-se assim, sem o dizer claramente, na primeira linha dos candidatos a candidatos.
Todos aguardam agora pela conferência de impresensa-lançamento de livro de Cavaco Silva, livro cuja leitura Marcelo recomendará numa das suas próximas conversas em família do serão de domingo.
Com jeito, mais do que com sorte, será Marcelo quem irá ser "carregado em ombros" para Belém.
Apesar disso, o Professor não deixou passar em branco o "facto político" do fim de semana, afirmando que Santana cometeu três erros, apesar de a entrevista ser, na sua perspectiva, "esperável".
O primeiro erro de Santana, segundo Marcelo, foi a incoerência do primeiro, ao ter afirmado, não há muito tempo, que Cavaco seria o candidato natural e que até só avançaria caso Cavaco não fosse a jogo, para afirmar, agora, que Cavaco não serve, porque vai dar cabo da "coligação". E com isso, acrescentou ainda Marcelo, Santana pode tornar-se responsável pelo não avanço do economista de Boliqueime, que, caso a sua peculiar idiossincrasia o faça continuar no seu canto, surgirá aos olhos de todos como uma vítima, precisamente de Santana. Além disso, se Cavaco não avançar e se Santana perder as eleições, ficará a pairar eternamente a dúvida (retórica): Teria Cavaco ganho as eleições? Será que Cavaco não concorreu por causa de Santana Lopes? É Santana o único responsável pela permanência da esquerda na Presidência?
Marcelo explicou os erros de Santana, como explicou aquilo que Santana deveria ter feito (basicamente, estabelecer o timing da apresentação da sua candidatura sem hostilizar Cavaco...).
Mas ao ouvir Marcelo explicar o que Santana deveria ter feito, o que vi foi Marcelo a explicar o que ele próprio (Marcelo) está a fazer: Não fecha a porta à sua própria candidatura a Belém, não hostiliza Cavaco, não se põe em bicos de pés a dizer "eu é que quero ser o presidente da junta" e, ao mesmo tempo, com a ironia mordaz em que é mestre, aproveita habilmente o flanco que Santana Lopes, mais ou menos consciente, lhe oferece numa entrevista apressada.
Com isto, provoca Cavaco, que, por birra, é bem capaz de não avançar, por falta de paciência para medir forças com Santana numas "primárias à portuguesa" (Marcelo sabe que Cavaco dificilmente avançará senão levado em ombros), ao mesmo tempo que debilita, pegando na argumentação de Santana Lopes, as probabilidades da aceitação da candidatura deste no seio do PSD, posicionando-se assim, sem o dizer claramente, na primeira linha dos candidatos a candidatos.
Todos aguardam agora pela conferência de impresensa-lançamento de livro de Cavaco Silva, livro cuja leitura Marcelo recomendará numa das suas próximas conversas em família do serão de domingo.
Com jeito, mais do que com sorte, será Marcelo quem irá ser "carregado em ombros" para Belém.
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