2003/12/13

Helena Matos no seu melhor 

O seu artigo de hoje confirma a minha opinião de que Helena Matos é, neste momento, quem melhor pensa e escreve nos jornais portugueses.
Escusado será dizer que subscrevo, quase por inteiro, a sua opinião acerca do tema.

Ainda não foi desta 

O Projecto de Constituição Europeia vai continuar a ser discutido sob a presidência irlandesa. Ainda não é desta que vamos ter um novo Tratado (Constitucional) de Roma.
Como castigo pela sua opisição à pressa francesa, polacos e espanhóis almoçam à parte...

2003/12/12

Novo marco 

Quatro dias antes de completarmos meio ano de bloguices, atingimos hoje as 50.000 visitas e quase 87.000 page views. Muito longe de ser um número abrupto, coloca-nos porém num lugar simpático no ranking da lusa-blogosfera. Obviamente que estamos emproadíssimos com tão histórico marco.
Mil Santiagos câambada! E já que insistem tanto em nos ler, vá lá saber-se porquê, cá continuaremos, sempre de lança em riste, a escrever.

Regresso e 1º de Dezembro 

Razões de natureza profissional, uma deslocação de alguns dias a Paris (que continua uma festa, malgré les français) e uma incomodativa gripe, têm-me mantido totalmente afastado da blogosfera a que agora regresso. Entretanto perdi alguns debates interessantes, como o dos subsídios à cultura, onde ainda espero meter uma “colherada”. Várias temáticas tenho para “pôr em dia”, designadamente o folhetim das propinas sobre o qual nunca me pronunciei e retomar o interessante debate sobre o TGV com o Irreflexões.

Mas ao navegar por vários blogues numa tentativa rápida de me actualizar, sou naturalmente estimulado por alguns temas. E ao ler esta posta do Bruno, não resisto a uma provocação, muito embora tenham decorrido quase 2 semanas. Mas o 1º de dezembro é um assunto intemporal passível de ser debatido em qualquer altura. Antes disso porém, impõe-se uma pequena correcção: o domínio espanhol não durou 80 anos como afirma o Bruno, mas apenas 60, contados de 1580 a 1640.

Estou de acordo, que nos deveríamos lembrar mais do 1º de Dezembro. Não para glorificá-lo em cerimónias patéticas e com Olivença sempre à mistura, mas para discuti-lo com o distanciamento que mais de 3 séculos já deveriam permitir. Mas temos sempre tendência a realçar a vertente épica e heróica de determinados factos históricos e jamais analisamos as suas implicações no longo prazo.

“Restauração da independência” é um termo bonito e que nos enche o ego. Mas nestas coisas os benefícios nunca se repartem de forma equitativa e os ganhos de uns podem ser as perdas de outros. Hoje é nítido que ganhou uma aristocracia que apresentava então sinais claros de decadência e via os seus privilégios a minguar; perdeu o País com quase 30 anos de guerra, perdeu principalmente toda a zona fronteiriça que entrou a partir daí num processo de desertificação que ainda hoje persiste. Aliás, a fronteira luso-espanhola deve ser um caso único na Europa pelo acentuado grau periférico que ostenta, nos antípodas do dinamismo económico da generalidade das zonas fronteiriças europeias.

A reconquista da independência não representou qualquer impulso visível no nosso desenvolvimento, mantendo-se antes a tendência de declínio encetada com a expulsão dos judeus no reinado de D. Manuel. Embora formalmente independentes, transformámo-nos na prática em colónia inglesa, situação que se manteve até à revolução liberal de 1820 em que nos virámos para o jacobinismo francês, do qual ainda hoje somos tributários. A visão estratégica de algumas figuras marcantes no seu tempo, como o Conde de Ericeira ou o Marquês de Pombal, destoa claramente num quadro geral que sempre se pautou pela mediocridade das classes dirigentes.

E se não tivesse havido o 1º de Dezembro? Estaríamos melhor ou pior? São questões sem resposta e que se prestam apenas a pura especulação. E é apenas isso que pretendo fazer, sem pretensão de qualquer rigor científico. Vou deter-me nalguns eventos significativos em que uma outra envolvente política teria condicionado a sua ocorrência, daí podendo resultar uma diferente evolução histórica. Se para melhor ou para pior, é discutível.

Desde logo, seria pouco provável que se tivesse celebrado o Tratado de Methween que, segundo alguns historiadores, terá aniquilado à nascença a indústria de lanifícios da Covilhã. Mas, por outro lado, não teria havido o grande incentivo à produção do vinho do Porto e talvez este não tivesse alcançado a notoriedade actual. Igualmente pouco provável, seria o fluxo ocorrido com o ouro do Brasil. Não iria financiar a revolução industrial inglesa, mas ficaria em grande parte na Península. Resta saber se aplicado em investimentos estruturantes, se na oferta de mais faustosas baixelas ao Papa.

Teríamos as obras do Fontismo? Provavelmente, mas integradas numa lógica ibérica. E talvez as regiões fronteiriças fossem hoje mais povoadas e Chaves, Bragança, Guarda, Castelo Branco, Évora e Beja constituíssem pólos com outra dinâmica de desenvolvimento.

Evitar-se-ia toda a fantochada e folclore da 1ª República e talvez Salazar, mas teríamos sofrido o flagelo da guerra civil espanhola e não nos livraríamos do Franco. Livrar-nos-ia este da guerra colonial? Talvez. E o pós-franquismo seria pacífico e sem grandes turbulências se não houvesse a experiência “pedagógica” do 25 de Abril? Considero muito provável que a clarividência do trio Juan Carlos/Adolfo Suarez/Felipe Gonsalez levasse a uma evolução muito semelhante à que ocorreu e que hoje a Ibéria fosse parte integrante da União Europeia, porventura com um peso e uma influência superior à que detém a dupla Portugal/Espanha, que raramente concerta posições.

Certo é que hoje, as relações com o nosso (único) vizinho com o qual vivemos séculos de costas voltadas, continuam repletas de equívocos e fantasmas, ainda debaixo da máxima salazarista “de Espanha nem bom vento, nem bom casamento” que, estupidamente, resiste e persiste. Haveria que tomar uma outra postura e acabar com todos os complexos e lamúrias que há relativamente a Espanha, ao seu desejo de nos dominar, à invasão de produtos espanhóis e outras balelas do género. Temos muito mais a ganhar com a Espanha do que esta connosco, desde logo pela diferente dimensão das 2 economias. Tendo ao nosso lado um mercado de 40 milhões de pessoas e com um poder de compra bastante superior ao nosso, do que precisamos mais para ganhar massa crítica? Já temos casos (infelizmente poucos) de empresas portuguesas, grandes, médias e pequenas, que avançaram decididamente para o mercado espanhol, e por via disso, algumas delas tornaram-se major players dos respectivos sectores no mercado ibérico.

É juntando esforços e fazendo parcerias com a Espanha que podemos ter um papel mais activo nos principais mercados internacionais e ganhar competitividade para lá ficar de forma perene. A Ibéria, actuando como um todo, terá uma capacidade de influência acrescida junto da América Latina, o que constituirá um “lastro” precioso ao aumento do seu peso negocial na UE. Actuando em separado, dificilmente Portugal conseguirá ser o “porta-voz” europeu do Brasil e este tenderá a escolher a Itália como seu interlocutor privilegiado – lembremo-nos que a comunidade italiana no Brasil supera claramente a portuguesa, seja em número, seja em importância económica.

Em suma, vai sendo tempo de encararmos de outra forma as relações com Espanha e olharmos como uma oportunidade a completa integração das duas economias que é, queiramos ou não, um processo já irreversível.

Aqui d’el-Rei que perdemos soberania, gritarão alguns. Mas o que é isso? De resto, Portugal só é independente para Lisboa ser a capital...

O verdadeiro grande embate dos oitavos 


Podia ser pior.
Venham os quartos de final, carago.

2003/12/11

Compêndio de Informações inúteis (III) 

Paulo Pereira, do Blogo Social Portuguê, teve a amabilidade de me massacrar no seu blog, a propósito das minhas postas de ontem com o tí­tulo em epígrafe.
O tí­tulo da (minha) post avisava apenas demontrar como se fazem notí­cias, ou pelo menos títulos, de "não factos".
Vários jornais, rádios e televisões, avançaram ontem com notícias que afirmavam que, segundo um estudo da ONU, "em 2300, Portugal terá menos 17% de população" e coisas do género, transformando em factos, simples cenários (de entre vários avançados pelos autores do estudo).
O estudo não afirmava nada. Traçava, como bem refere Paulo Pereira, meros cenários, baseados na taxa de natalidade e da evolução esperada da esperança média de vida.
Todavia, tal como os jornais portugueses, o próprio site da ONU informava:
"The world's population in 2300 is likely to be around nine billion, lower than previous long-range forecasts, while the population will continue to age rapidly thanks to improving longevity, according to groundbreaking new projections released today by the United Nations population arm."
Todavia, o estudo não afirma que a população será aquela ou outra qualquer, prevendo até várias hipóteses muito dí­spares entre si.
Se se verificarem os "ses" referidos aqui e ainda outros (se se mantiver a taxa de natalidade e se se mantiver a evolução da esperança média de vida), a população mundial poderá ser esta ou aquela.
O Estudo, mais do que uma previsão da evolução da população, é uma reflexão sobre o impacto da(s) taxa(s) de fertilidade no crescimento desta.
Afirmar, como o fizeram a própria ONU, no seu site de notí­cias, e a imprensa, que a população mundial em 2300 será de "aproximadamente nove mil milhões de habitantes" é, tendo em conta todas as outras variáveis, uma afirmação gratuita e inútil.
Que o aumento da população é inevitável com o aumento da esperança média de vida, associado a elevadas taxas de natalidade, é uma realidade já de todos conhecida.
Não era necessário o estudo para se confirmar esta hipótese. Basta conhecer a história do século XX.
O que o estudo não reflecte é o facto de a melhoria generalizada das condições de vida das populações concidir, normalmente, com grandes quebras na taxa de natalidade. Daí o facto de, num dos cenários, Portugal e os outros países europeus perderem população, apesar de a nível global, ela continuar a crescer.
Para que em 2300 não sejamos "40 ou 400 mil milhões" não é preciso impor (administrativamente) "quotas de natalidade", obrigando as pessoas a (ou pribindo-as de) ter determinado número de filhos. É preciso, isso sim, que surjam cada vez mais economias de mercado, as únicas até hoje capazes de afastar, em massa, os indivíduos da pobreza e da miséria. O "controlo" da natalidade surgirá naturalmente.

2003/12/10

Ser politicamente correcto é: 

- Dar um prémio nobel da paz a uma mulher muçulmana que luta pelos direitos daquelas que os não têm nem os terão enquanto o forem.

- Transmitir a impressão que a "linha dura" do regime não gostou da gracinha e que é um acto de grande coragem ir à Suécia receber o dito prémio.

- Aparecer de cabeça descoberta na cerimónia tentando transmitir um elevadíssimo significado político a um acto que não passa de uma elementar opção pessoal para qualquer mulher ocidental.

- Depois desta encenação toda, expelir um discurso radical contra o Grande Satã Americano na linha do que qualquer Ayathola que se preze teria vociferado nas mesmas circunstâncias.

Babados agradecimentos 

Surpreendido e sensibilizado pela "catadupa" de mensagens de felicitações pelo nascimento da minha filha, oriundas da blogosfera, venho, por este meio, babadamente, agradecer a todos.

Sem querer favorecer ninguém em particular, não posso contudo deixar de mencionar a técnica ao serviço da graça do Ter Voz, bem como um formidável poema que o BOS, da Nova Frente, ofereceu para a ocasião. A estrofe final, dirigida à Inês, termina assim:
«Nunca sejas "Mata-Mouros",
mas antes Moura Encantada
».

Mais uma para a confusão 

O juiz Rui Teixeira viu mais uma decisão sua contrariada por uma instância judicial superior. O TR de Lisboa decidiu que o interrogatório a Carlos Cruz deverá ser repetido, por razões (ou melhor, erros) similares aos apontados na situação de Hugo Marçal.
Se esta notícia, por um lado, é positiva porque revela que o sistema ainda vai funcionando, por outro reaviva grandes apreensões. Num processo que marca o presente e o futuro da justiça penal portuguesa, o mau trabalho de um juiz poderá a vir a comprometer muito mais do que se deveria permitir.
Para já os portugueses apenas julgam que está lançada, definitivamente, a confusão.
Quando finalmente se aperceberem que alguns dos principais arguidos poderão vir a ser libertados - independentemente de uma decisão final e futura - devido às asneiradas do Juiz de Instrução pode ser que Rui Teixeira deixe de ser o "herói da pequenada" em que a imprensa de escândalos o quis transformar.

Leitura obrigatória 

Este texto de José Miguel Júdice no Público.
Comentários mais tarde.

2003/12/09

Então a REVISTA DE BLOGUES ??? 

Foi a pergunta, em tom indignado, que me dirigiram via mail. De facto, na semana passada, pela primeira vez em 20 semanas não foram atribuídos os prémios "Os Melhores da Semana".
Não por desistência - embore aproveite o ensejo para avisar que o todo o processo sofrerá uma profunda remodelação a partir de Janeiro.
Mas porque no passado sábado, às 23.15h, me nasceu uma filha. E não há fervor bloguista que resista à catadupa de sentimentos e perplexidades que transbordam quando se tem um filho nosso nos braços.
Até já.

Revista de Blogues 

A indisponibilidade do nosso "Billy Cristal", CAA, fez com que a grande noite dos "Melhores da Semana" tenha sido adiada, sine die (mas em princípio para antes da data prevista para a próxima edição). Aos (ainda não) premiados, o pedido de desculpas da gerência.

Compêndio de informações inúteis (II) 

Parece que, afinal, o Estudo da ONU contém vários cenários, com resultados bastante díspares entre si:
A margem de variação, a trezentos anos, é de mais de 30 mil milhões. Ou seja, a população mundial em 2300 poderá ser metade ou o sêxtuplo da actual. A pergunta permanece e torna-se mais premente: para que serve isto?


(cortesia BBC)

Nota: O texto da BBC, que não o gráfico, fala ainda num worst case scenario de 134 trillion (não sei o que será isto em português, mas creio que seriam [só podem ser] "mil milhões" - billion em inglês)

Compêndio de informações inúteis (I) 

Se não houver nenhuma guerra mundial,
Se não houver nenhuma catástrofe natural,
Se não houver nenhuma nova revolução industrial,
Se as máquinas não tomarem conta do mundo antes,
E, ja agora, se não for descoberto o elixir da eterna juventude, e, ainda,
Se Portugal conseguir ultrapassar o milénio de história como país independente

«De acordo com o relatório «População Mundial em 2300», a população portuguesa vai crescer até 2010 para 10.082.000 habitantes, diminuindo para 8.302.000 em 2300.

As estimativas da ONU baseiam-se numa situação de «cenário médio», o que corresponde a uma taxa de fertilidade de duas crianças por mulher (a taxa actual é 2.68 filhos por mulher).
».

Se, como dizia o outro (Keynes, se não me engano), "no longo prazo estaremos todos mortos", qual o interesse deste tipo de previsões?

Para além de Malthus, não me lembro de ninguém que, há duzentos ou trezentos anos atrás, tenha tentado, com sucesso, fazer previsões tão a la longue sobre a evolução populacional.

Será apenas para entreter os burocratas da ONU?

2003/12/08

Retrato da semana 

O do Ensino Superior em Portugal, por Maria Filomena Mónica, hoje, no Público.

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